As externalidades do automóvel em Portugal

Em anexo um excelente trabalho da Universidade Técnica de Dresden do seu departamento de transportes, onde estimam, desconsiderando as infraestruturas (rodovias, pontes, etc.) e manutenção (repavimentação, semaforização, etc.), desconsiderando também gastos do estado com polícias, paramédicos, etc., desconsiderando também ocupação de espaço; pois todos estes itens não são considerados externalidades, que o carro em Portugal apenas em externalidades (alterações climáticas, sinistros, poluição do ar e sonora) custa por ano quase 5 mil milhões de euros por ano (ver tabela na página 34). São cerca de 500 euros por ano per capita.

The_true_costs_of_cars_EN.pdf (3.5 MB)

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Se desconsideram isso tudo, então consideram o quê para chegar a esses valores?
(Estou no telemóvel, não consigo ver bem o gráfico)

Muito interessante. Algumas frases chave que recortei das conclusões do estudo:

The findings of this study clearly show that the frequent claim “that cars cover all their internal and external costs" cannot be sustained.

Based on the assumptions described in this study, the cars used within the EU-27 externalize about 373 billion € per year (high estimate) on to other people, other regions and other generations (low estimate: 258 billion €). This is a considerable sum, and it leads to a level of car use that is inefficient from the perspective of society.

[…] car traffic in the EU is highly subsidized by other people and other regions and will be by future generations: residents along an arterial road; taxpayers; elderly people who do not own cars; neighbouring countries; and children, grandchildren and all future generations subsidize today´s traffic. They have to pay, or will have to pay, part of the bill.

User price increases by internalising the external costs in consumer prices, while offering alternatives to car use, can change behaviour substantially – and this may be the cheapest option.

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Nuro, de facto depende da contabilidade mas normalmente espaço e preços das infraestruturas não são considerados externalidades.

Esses custos devem ser considerados em análises custo/benefício feitos antecipadamente. Caso o estado considere por exemplo que a obra tem interesse público (ligar uma AE ao inteiror) pede a uma empresa de amigos para fazer uma análise custo/benefício favorável e o custo da obra fica a cargo do orçamento de estado.

Agora a sério! Uma externalidade é um custo para terceiros que o próprio não considerou com a sua acção. Se a análise custos/benefícios estima, por exemplo, que uma AE é benéfica face aos custos (as AEs são mais seguras e emitem menos poluentes locais, e evitam o congestionamento) o saldo custos vs. ganhos em relação à situação anterior, já foi considerado aquando da obra e as duas parcelas em principio anulam-se com a obra.
Se agora adicionasses ainda o custo da obra como externalidade, terias de considerar também as menores externalidades que obra trouxe em relação à situação anterior.

Isto é na teoria. Na prática, devido à subjetividade, funciona como os estudos de impacto ambiental. Haja “vontade política” e qualquer obra se faz independentemente do custo, do local e do tráfego. Vê o caso do Marquês em que todos os estudos deram parecer negativo. Repara ainda que nem metade das AEs do país tem o tráfego estimado pelas diversas análises custo-benefício que justificaram as respetivas AEs.

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Este trabalho da Universidade Técnica de Dresden aparece referenciado num artigo (de 2012) do The Guardian:

«The idea that drivers are “the cash cows of our society” is wrong, the authors write: “On the contrary, it must be stated that car traffic in the EU is highly subsidised by other people and other regions and will be by future generations: residents along an arterial road, taxpayers, elderly people who do not own cars, neighbouring countries, and children, grandchildren and all future generations subsidise today’s traffic.”?

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Nem a propósito

@MarioJAlves, a propósito da nossa conversa (negrito meu)

O primeiro-ministro, António Costa, reconheceu hoje, em Leiria, a necessidade de uma “maior atenção” das políticas públicas para o setor automóvel, pela capacidade de este gerar cadeia de valor, emprego qualificado e de contribuir para as exportações.

“O ‘cluster’ automóvel é fundamental para o futuro da economia portuguesa”, pelo que “tem que ter a maior atenção por parte das políticas públicas”, defendeu o primeiro-ministro na sessão de apresentação do estudo sobre a relevância e tendências de futuro da indústria automóvel.

A este propósito, António Costa destacou a diversidade do setor pela “capacidade que tem de gerar emprego qualificado, de dinamizar o número de setores económicos, de contribuir para o aumento das exportações e por ser um incentivo importante para o desenvolvimento da capacidade de inovação, desenvolvimento e conhecimento em Portugal”.

Constatando que se trata de uma área que “carece de investimento”, o governante defendeu que “a primeira política pública que é essencial casar com o setor” é a que se destina a “criar boas condições para o investimento”.

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O handbook de 2008 da CE Delft (https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/themes/sustainable/doc/2008_costs_handbook.pdf) foi atualizado em 2014:

Tirado daqui:

Publicado hoje:

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Excelente gráfico João, muito obrigado.
Esse gráfico das externalidades por modo de transporte está fantástico e é mais um alicerce para desmistificar a máxima da porca burguesia motorizada de que paga muitos impostos.

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E este custo?

“Natal seguro” e “15 mortes” na mesma frase é sintomático do estado das coisas.

@Nuno e mais 8 contabilizados na operação da passagem de ano.

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“O seu carro vai apenas a 5-6 km/h. Infelizmente um defeito no sistema de travagem, fá-lo chocar contra uma parede. O sr. Joseph Cugnot está assim na origem do primeiro acidente rodoviário e acaba sendo preso, acusado de ser um perigo público”.
É uma pena que o conceito de perigo público e a respectiva punição, tenham regredido de 1769 para cá.

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muitos anos de marketing e influência política e jurídica.

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Curioso no mínimo. Na época, se fosse alguém atropelado por um cavalo ninguém ligava!

Sim, é uma conspiração!

Não, não é uma conspiração. Chama-se lobby. Existem nas mais diversas áreas e até certo ponto fazem sentido. No entanto, como em tudo na vida, sem moderação perdem o sentido. Exemplos de lobbys que perderam a noção além do lobby automóvel: armas e combustíveis fósseis.

Em sentido contrário, é hoje em dia muito necessário fazer lobby pela mobilidade suave.

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Nenhum lobbie faz sentido, constituem antes grupos de pressão anti-democráticos!

correcto, mas um lobby mesmo muito forte, pois envolve muito mais que apenas receitas para determinadas empresas.

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E assim se inventam mais impostos sobre cidadãos sem alternativas !!

Não têm que ser os outros a subsidiar a sua vida.