O problema principal da gira é de projeto ao basear-se em docas fixas o que reduz drasticamente a flexibilidade geográfica para o utilizador. É um modelo antigo dos anos 90 que prescindia até de apps pois o utilizador podia fazer todas as operações de checkin e checkout num painel em cada estação. Usei sistemas desses há 10 anos em Paris ou Viena de Áustria.
Em plena ascensão da quarta revolução industrial, onde quase todos têm smartphones com sistemas de localização, e uma antena e descodificador GPS a instalar nos veículos, custa cerca de 20 euros; usar um sistema de bicicletas com pontos de partida e chegada fixos e predefinidos, é inaugurar um sistema que parte logo à partida desatualizado em relação ao estado da técnica.
Um importantíssimo upgrade ao sistema - a @MUBi poderia refletir sobre isso - seria espalhar pela cidade vários pontos de estacionamento convencionais onde as bicicletas gira poderiam ser estacionadas e bloqueadas. Esses pontos de estacionamento seriam de um modelo padrão e poderiam ser usados também por outras bicicletas convencionais. Só se poderia fazer checkout
quando a bicicleta gira estivesse bem estacionada e bloqueada e dentro de uma determinada área da cidade, tal como acontece com a eCooltra.
Tento fazer a minha contribuição construtiva para melhorar o projecto se bem que creio que na emel ignoram completamente a opinião dos outros. Até
agora, o projeto revela-se medíocre e caro, havendo também soluções ambientalmente sustentáveis (eCooltra) que prestam melhor serviço e a custo
zero para o contribuinte.
Ademais tal remete-nos para uma outra questão a qual toda a gente ligada à mobilidade sustentável e ambientalismo deveria reflectir profundamente.
Reduzir o debate político no campo da mobilidade e ambiente à clássica dicotomia esquerda-direita, além de pobre e redutor, tem sido trágico para
o ambiente e para a mobilidade pois todos aqueles que não se identificam com as ideologias clássicas da esquerda, guardaram, por contágio ideológico, uma repulsa a qualquer debate sobre a defesa do ambiente, quando deveriam ser eixos e matérias totalmente independentes. O exemplo paradigmático é o do PEV, Partido dito Ecologista os Verdes, que na prática mais não tem feito que dar voz, em eco disforme, às bandeiras da
esquerda, desde a libertação da Palestina (talvez os palestinianos sejam mais verdes que os israelitas) até ao aumento dos funcionários públicos (andarão os funcionários públicos mais de bicicleta que os trabalhadores do setor privado?).
Considero também por isso que caso queiramos ser politicamente mais ativos devemos ser claros no domínio político-parlamentar: defender e promover partidos como o PAN, e atacar veementemente partidos como o PEV, pois criam ruído e confusão no debate político sobre o ambiente e mobilidade sustentável.
Como conclusão deixo as seguintes perguntas para reflexão:
Serão os funcionários públicos mais respeitadores do ambiente que os trabalhadores do setor privado?
Comem os funcionários públicos e pensionistas menos carne que os demais?
Melhoram-se os índices ambientais ao se aumentarem os salários dos professores?
O ambiente muda pelo facto dos CTT serem públicos ou privados?
Têm mais respeito pelos direitos dos animais e ambiente os funcionários públicos que os demais?
Reafirmo que não quero com isto dizer que o ambiente deve ser de direita ou liberal. Apenas insisto veementemente que o debate sobre mobilidade e ambiente deve ser totalmente INDEPENDENTE das clásicas dicotomias
esquerda-direita. Tenho para mim que tal redução inquinou o debate político em Portugal nas últimas décadas, com trágicas consequências para o ambiente e para a mobilidade sustentável. O caso das bicicletas partilhadas é apenas mais um exemplo.
Bom solstício de Inverno e boas festas!