Se utiliza a bicicleta para deslocações diárias na cidade, ou se opta por se deslocar a pé, parabéns e obrigado. Menos um carro a poluir o ambiente que tanto prezamos e mais uma pessoa que se tornou consciente da necessidade de mudar hábitos em prol de um futuro mais saudável.
Nas suas deslocações diárias, caso seja ciclista e opte pela utilização de ciclovias, certamente já se deparou com peões a circular na mesma.
Parece-me importante referir que existem dois tipos distintos de pistas:
-Ciclovias: Pistas especialmente destinadas ao uso de velocípedes.
Lei n.º 116/2015, de 28/08, Artigo 78º
-Zonas de coexistência: Zonas da via pública especialmente concebidas para utilização partilhada por peões e veículos, onde vigoram regras especiais de trânsito, estando para o efeito devidamente sinalizadas como tal.
Lei n.º 116/2015, de 28/08, Artigo 78º-A
Lamentavelmente, existem ainda casos de ciclovias mal pensadas, onde o passeio foi substituído pela ciclovia e o peão não tem alternativa senão usar a ciclovia.
Uso a bicicleta diariamente para me deslocar para o trabalho em Lisboa, e percorro a ciclovia compreendida entre o terminal de autocarros do Campo Grande e a rotunda de Entrecampos. Esta é uma ciclovia bidirecional e como tal é especialmente destinada ao uso de velocípedes (Bem hajam CML). O percurso desenvolve-se ao longo do jardim do Campo Grande e existe bastante espaço de passeio dedicado ao peões. No entanto, todos os dias, quer seja de manhã ou ao final do dia, encontro as seguintes situações:
-Peão a caminhar/correr na ciclovia, tanto no sentido de circulação de trânsito como em sentido oposto;
-Grupo de peões a caminhar em toda a largura da ciclovia, criando uma barreira.
-Carrinhos de criança, tanto no sentido de circulação de trânsito como em sentido oposto;
Consciente de que os peões o fazem muitas vezes por falta de conhecimento, distracção ou porque o pavimento da ciclovia é mais recente e mais confortável, tento avisar a minha aproximação antecipadamente e em distância de segurança com o uso da campainha. Perante isto já encontrei os seguintes cenários:
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O peão sai da ciclovia e pede desculpa.
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O peão não sai da ciclovia e ignora-me, arriscando a colisão.
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O peão sai da ciclovia contrariado e a uma distância muito próxima, verbalizando um ou outro comentário menos simpático.
Quando abordo os peões em relação ao facto de que a ciclovia é de uso dedicado ao velocípede, é notória a falta de conhecimento e mais grave, a falta de noção de perigo em que colocam os ciclistas e eles próprios.
Hoje de manhã, uma senhora com um carrinho de criança, passeava na ciclovia em sentido contrário, portanto, na faixa onde eu circulava. Deparei-me de frente com ela. Não se desviou. Manteve-se firme quase como que usando o carrinho em sua protecção. Abordei-a simpaticamente e disse-lhe que não devia circular na ciclovia e que tinha bastante espaço no passeio. Responde-me que não é bem assim. Alertei para o facto de ser muito perigoso e que outros ciclistas ali passam diariamente. Fiquei estupefacto quando me respondeu: “Por isso é vou em sentido contrário!”
Até onde estamos dispostos a ir pela nossa segurança? Até onde vai a nossa liberdade de circulação? Qual é o sentido de cidadania? Deverão as autoridades ter um papel pedagógico mais activo?
Pareceu-me pertinente partilhar este episódio e de alguma maneira lançar a discussão e ouvir opiniões, experiências semelhantes de modo a abrir mentalidades para uma melhor circulação nas cidades e uso do espaço público.
Da minha parte, vou continuar diariamente a dialogar com as pessoas para que um dia, ciclista e peão se protejam em vez de se colocarem em perigo.