A eficiência da bicicleta como meio de transporte

Muito interessante esta discussão. Há pouco vi este artigo: Por mais que quase não mencione as bicicletas e fale mais sobre Uber & Co., é notável que um jornal ultra liberal (e “capitalista”) fale contundentemente sobre o fato de que os carros ocupam espaço público e que este facto deveria ser visto com um custo para a sociedade (além dos custos conhecidos para o meio ambiente) … que até agora ninguém considera nos debates públicos. Achei sinal de uma grande mudança de paradigma no discurso público, vindo de uma fonte bem inesperada. Pode ser útil naquelas situações onde alguns de nós tiverem de se confrontar com argumentos sobre quem teria direito de usar o espaço nas estradas e ruas.
Este artigo dá um ângulo interessante: que todo uso do carro individual está sendo subvencionado indevidamente pela sociedade.

Espero que o anexo abra bem.
riding-alone-in-a-car-is-a-luxury-an-increasingly-unaffordable-one.pdf (20.7 KB)

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Dado a indústria automóvel constituir o meio de sobrevivência para 20% da população activa, tentar eliminá-los assim sem alternativas não constitui um custo maior para a sociedade ?

Acho que a questão não é eliminar o carro, mas que na narrativa popular o uso do espaço seja considerado como um custo para a sociedade, … e que seja respetivamente taxado. Se eu uso x m2 de espaço (veja os gráficos em cima) em movimento, devo pagar por este espaço à comunidade. Esta é a ideia económica do artigo. Se lembro bem, em algumas cidades japonesas (ou foi Cingapura?) você não pode sequer registar um carro se não consegue comprovar que tem garagem. Isto contrasta com a percepção popular entre muitos Portugueses: “eu moro neste bairro: por isto tenho direito (e preferência) para estacionar aqui”.

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Singapura, mas também na Alemanha e na Suiça. Mas gostaria de ter os transportes públicos que eles têm e abdicaria alegremente do carro. Infelizmente vocês só vêm metade da questão, básicamente o que dá nas vistas esquecendo-se dos detalhes, o que deita por terra qualquer argumento.

E sabe porquê? Porque nesses países antes de autorizar a construção de qualquer parque empresarial ou residencial, é feito um planeamento da rede de transporte públicos e estes precedem os edifícios. Portanto não compare com o esterco que por cá se faz!

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Calma….
Sou Alemão e vivo a metade da semana na Suiça.

não é bem assim não… Claro que - a Suiça - tem excelentes transportes públicos, mas na Alemanha só algumas poucas cidades vanguardistas, que são muito publicitadas.

Também não precisa se autoflagelar como Português. A maior diferença que vejo com estes países é só a atitude: lá vejo menos essa convicção de que o espaço público é de ninguém onde posso deixar o meu carro (ou o meu lixo) e menos a percepção social que é só pobre ou excêntrico quem vai de transporte público ou em bicicleta. Ainda bem que a nova geração e os tantos estrangeiros que vivem agora em Lisboa estão mudando isto.

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Olá, eu acho que tocou aí num ponto interessantíssimo e pouco discutido aqui: a associação de que quem anda de transporte público ou bicicleta o faz porque não pode ter carro, não pode comprá-lo.
Aqui ter carro ainda é muito um sinal de status. E esta barreira não é facilmente derrubada. Muitas pessoas, em Portugal, vêm como sinal de reconhecimento quando a empresa onde trabalham lhes disponibiliza um carro, independentemente de necessitarem, em trabalho, de se deslocarem para vários sítios/reuniões.
Portugal ainda tem o síndrome da “pobreza”, talvez devido à pobreza e ditadura recente na história, daí, ainda valorize o mostrar riqueza => sucesso na vida, por esses sinais exteriores de riqueza.

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É mais do que uma síndrome, em parte devido à grande desigualdade entre as zonas metropolitanas e o resto do país. Quantos são os que deixam o interior para se instalarem nas zonas metropolitanas para serem “bem sucedidos”.

Eu considero que as pessoas vão morar para onde têm trabalho. Se encontrarem trabalho melhor ou mais bem remunerado na cidade, é muito provável que para lá que se mudem. A questão não será entre viver na cidade/aldeia, é considerarem que andar de TP ou bicicleta “é de pobre”. Nada tenho contra quem tem carro, e que compre o que mais gostar e puder comprar. Mas a forma como se deslocam em zonas urbanas, em percursos curtos diários, que façam sozinhos, possa incluir modos suaves. Eu levo os meus 2 filhos à escola de carro, depois, quando não chove (pois, ainda não ultrapassei a fronteira da chuva), regresso a casa e vou de trotinete para o trabalho. Existirão muitas pessoas como eu que poderiam ir de bicicleta ou TP para o trabalho. Não todas, mas muitas. E já faria diferença.

Nem por isso, a especulação imobiliária inflaccionou os preços e por isso quase todos ficam na periferia tendo de recorrer ao automovel porque:

  • O serviço de TPs é miserável
  • A distãncia ao trabalho é demasiado grande para ir de bicicleta
  • O trabalho fica num ermo sem TPs

Lisboa e Oeiras canibalizam as empresas e os empregos que poderiam estar distribuídos pelo pais. Depois o resultado é o que se vê.

Mas de facto existe gente que pega no carro para fazer 1 Km até à estação de metro ou comboio. Outros fazem 1 km para ir ao ginásio. Só falta mesmo estacionarem ao pé da cama, abrir a porta e deitarem-se.

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E também em Tóquio. São 20 milhões de pessoas a habitar a capital japonesa. O que seria se cada uma se achasse no direito de possuir 12 metros quadrados de espaço público para estacionamento.

Se esses 12 m2 produzirem riqueza no lugar de uns quantos vadios andarem a vadiar por lá, será certamente vantajoso. Seria um bom exercício tentar perceber porque razão esse cidadão em particular teve de ocupar os 12 m2. Provavelmente porque a capital do império canibaliza todos os empregos do país, e graças aos estrangeiros ricos que inflaccionaram os preços da habitação ele não consegue viver na capital. Em paralelo o governo dá descontos nos TPs aos residentes e esquece-se dos que residem longe e que mais precisam desses descontos.

O mono que está ali a ocupar 12 m2 produz 0 de riqueza…

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Mono para ti mas único meio de transporte para alguns, ou esses não tem direitos face aos privilegiados como tu que vivem no perímetro urbano. Deixa de olhar para o umbigo.

Eheheh é isso, vamos acabar com os transportes públicos! Vamos dar um carro a toda a gente e vamos pôr toda a gente a usar o seu carro todos os dias. Isso é que produz riqueza! :rofl::rofl:

Não percebeste nada, segundo a tua filosofia neoliberal a sustentabilidade de um serviço de TPs precisa de um número mínimo de clientes, o que exclui milhares de pequenas povoações . Mas a tua sapiência dita que essas pessoas devem pegar numa bicicleta e percorrer os 20 / 30 km, com bebés, com crianças, com chuva, com sol. com gelo, com neve ou com 40ºC à sombra até à estação de TPs mais próxima. Claro que gastar 4 h ou mais por dia no processo não te interessa nada quando de automóvel o poderia fazer em menos de 40 minutos. O que interessa é dar conforto aos meninos da cidade, os saloios que se lixem, não é verdade ?

O automóvel é ainda, fora dos centros urbanos, o melhor meio de transporte. Agora é preciso separar as coisas: há quem vá morar pro campo porque pelo preço de uma casa de 40m2 na cidade pode ter uma vivenda de 250m2 fora desta.
Mas como tem de se deslocar todos os dias pra cidade, fica agarrado no transito e na sua dependencia (e custo!) ao veículo privado pios há poucas opções e alternativas. Faltam lhe opções para poder combinar o carro, a bicicleta os TPs…
isto porque não se investiu que chegue nas alternativas ao carro, quando este tem de entrar na cidade.

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Ninguem aqui defende o que tu dizes, excepto o saloio, que está sempre a desvirtuar o que nós defendemos.

O óbvio. Se eu nos 12 m2 de espaço público, em vez de um carro, colocar uma palete de vinho do Porto, cuja produção também dá emprego a muita gente, será que o @Three também considera aceitável?

Compreendo e aceito, cada um faz as opções que bem entender. Mas porque motivo o tipo que comprou com o mesmo dinheiro o apartamento de 40m2 na cidade, em relação à casa de 250 m2 nos subúrbios, há de ser prejudicado com tráfego e poluição pela opção deste em querer uma casa de 250m2? Na vida fazemos opções porque não se pode ter tudo.

Opa… sabes lá tu o que é um neoliberal :rofl:

Um neoliberal como tu é que a sabe toda: um carro a ocupar 12 m2 produz obviamente muito mais riqueza que um autocarro que não fica ali parado e leva logo dezenas de pessoas além de fazer serviço público. Fazes lembrar aqueles idiotas, que dizem que deviam criar mais condições ara carros e esquecer o resto, porque é um sector que produz muita riqueza em Portugal e dá muitos empregos, que os acidentes são bons para a economia porque põe os bate-chapas a trabalhar e dá emprego a mecânicos, e que os danos à saúde são bons porque vão dar emprego a médicos, enfermeiros e farmacêuticos.

Aposto que és daqueles manos que diz que não arruma o tabuleiro nos centros comerciais para dar emprego :rofl::rofl::rofl::rofl::rofl:

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