Bicicleta: a história do veículo que chegou a ser um trunfo de guerra

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Bicicleta: a história do veículo que chegou a ser um trunfo de guerra

Após um percurso feito de rampas promissoras e declives acentuados, a bicicleta está de pedra e cal. Tudo começou no século XVIII, sem guiador nem pedais.

21/06/2019

Por Ana Tulha

Contar a história dos primórdios da bicicleta pode ser um exercício quase tão arriscado como conduzir um velocípede sem rodas de apoio pela primeira vez. Ainda assim, e apesar da diversidade de teorias existentes, as versões mais comuns apontam para que tenha sido o francês Conde de Sivrac a engendrar o primeiro esboço de bicicleta, em 1780.

Esboço, leia-se. É que, no fundo, era apenas uma estrutura em madeira, com duas rodas interligadas por uma viga e uma barra fixa que, não servindo para conduzir coisa nenhuma (que fartote de tombos…), sempre permitia apoiar as mãos.

Já o título de inventor da bicicleta é com frequência atribuído ao alemão Karl von Drais, que, em 1817, acrescentou ao celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas. Nascia então a “draisiana”, já capaz de garantir o equilíbrio em movimento. Outras novidades foram surgindo. Primeiro, o ferro; depois, os sistemas de suspensão; mais tarde, os pedais (1839), entre outros melhoramentos. Por essa altura, surgiam também as competições de ciclismo. Garante a página brasileira “Escola de Bicicleta” que a primeira aconteceu em 1829, envolvendo 26 draisianas e uma distância de 4,5 quilómetros.

Entretanto, chegava a Revolução Industrial, com os veículos movidos a propulsão humana a ganharem espaço entre um “boom” de transportes para todos os gostos. Fechada a fórmula “standard” da bicicleta, foram aparecendo, ao longo do tempo, umas quantas variações. Em 1868, por exemplo, surgiu a “bone shakers”, uma bicicleta com uma enorme roda dianteira (onde estavam os pedais e o selim) e apenas uma pequena roda traseira.

Mais tarde, aparecem os “sociáveis”, veículos mais direcionados para a família, que podiam ter de uma a quatro rodas e que eram movidos pela força de pernas ou braços. Só que a massificação e a multiplicação dos vários tipos de bicicleta trouxeram também o aumento do número de quedas e acidentes.

Daí que tenha surgido a necessidade de regressar à fórmula original e de lançar a “bicicleta de segurança”, que, no fundo, nada mais é do que a bicicleta que hoje temos: as rodas voltam a possuir o mesmo tamanho e os pneus passam a ter câmara de ar, o que permitiu reforçar não só a segurança como o conforto.

O resto tem sido uma sucessão de altos e baixos. Se com a redução de custos e a pobreza que a Europa viveu durante as duas grandes guerras, a bicicleta ganhou espaço ao automóvel, a tendência inverteu-se quando os Estados Unidos patrocinaram a recuperação do Velho Continente, com os carros e os veículos motorizados a imporem-se em força. Enquanto isso, países como a China e o Japão iam-se assumindo como grandes produtores de bicicletas.

O novo crescendo de velocípedes na Europa surgiria já nas décadas mais recentes, à boleia das preocupações ambientais e da primazia de um modo de vida mais saudável. Se em 1976 se venderam na Europa 2,3 milhões de bicicletas, em 1990 foram já 4,5 milhões. Em 2016, o número superou os 19 milhões. E a moda segue. Ao sprint.

Trunfo de guerra
Que a bicicleta é o meio de transporte de eleição na Holanda não o surpreenderá. Mas, e se lhe dissermos que durante a Segunda Guerra Mundial chegou a ser usada neste país como espécie de trunfo de guerra? Aconteceu em maio de 1940, quando os alemães invadiram a Holanda e quiseram dispersar quaisquer tentativas de contestação. Para desmobilizar os holandeses, a política seguida pelos germânicos foi então a de… decretar o recolhimento de todos os velocípedes do país.

Como matar nazis … de bicicleta.