Olá, comunidade MUBi!
Escrevo-vos no seguimento de uma interacção muito estranha que me aconteceu hoje. Quero ter a certeza de que tenho a razão neste assunto antes de me dirigir às autoridades.
Vinha eu de bicicleta, em Lisboa, pela recente ciclovia marginal com início em Santa Apolónia e fim na zona do Braço de Prata (na rotunda grande da cintura do Porto de Lisboa). Antes das obras que estão em curso, a ciclovia terminava por altura dessa rotunda e, a partir daí, era suposto ciclistas e peões passarem a circular pela estrada lateral entre a velha via férrea e o estuário, o resto dos veículos circulando pela avenida interior até ao Parque das Nações. O fim da ciclovia/passeio é assinalado por um sinal de fim de obrigação (circular, fundo azul, faixa vermelha oblíqua, mostrando uma bicicleta e um peão). Devido às obras privadas em curso que requerem alterações à circulação, o trânsito geral está neste momento a circular por essa estrada lateral que só tem uma faixa de cada lado, bem como um passeio muito estreito de má acessibilidade. Assim sendo, só há uma rua para todas as classes de utentes da estrada.
Eu presumira que, a partir do momento em que a ciclovia acaba, voltam a aplicar-se as regras gerais de circulação — nomeadamente, que os peões circulam pelo passeio e os ciclistas pela estrada, partilhando-a com os motorizados. Nem parei para pensar no assunto; era só óbvio.
Estava então a circular pela estrada. O trânsito fluía pouco mais depressa do que eu, de maneira que havia ultrapassagens periódicas e feitas em segurança. A dada altura, uma senhora num carro em processo de ultrapassagem resolve encostar-me ao passeio à medida que o trânsito à frente se imobiliza. Estando todos nós parados, grito-lhe (já que ela não faz tensão de abrir o vidro nem reconhecer qualquer culpa) que tinha de deixar um metro e meio na ultrapassagem e que me pôs em perigo com o encosto.
Eis então que, do carro imediatamente à nossa frente (um ligeiro civil), sai um agente da polícia de trânsito fardado com o colete reflector. Abre a conversa fazendo uma concessão muito pouco convicta de que a senhora não tinha razão em fazer o que fez, mas salta imediatamente para me dar o raspanete de que não posso circular naquela estrada.
— Como assim, não posso?
— Não viu o sinal lá atrás dos ciclistas? O sinal diz que é proibido circular aqui.
— O quê? Não, o sinal indica o fim da ciclovia, momento a partir do qual aplicam-se as regras gerais e devo circular na estrada.
— Não, não pode circular aqui e a senhora encostou-o porque não pode circular aqui.
— Mas então onde devo circular?
— Não pode circular aqui.
— Mas então explique-me: onde devo circular?
— É que vocês [os ciclistas, presumo?] querem igualdade, querem igualdade, então têm de seguir as mesmas regras que os outros!
— Então mas precisamente! Nesta situação circulo na estrada como os outros.
— Não, não, você não pode circular aqui! Está ali, queriam igualdade, têm a ciclovia, agora têm de obedecer às regras e não pode circular aqui.
— Mas…
— …
— Com o devido respeito, não é essa a minha interpretação do sinal, é um sinal de final de obrigação que acusa o final da ciclovia. E não me explicou onde devo circular.
— Você não pode circular aqui! Os ciclistas não podem circular aqui! Têm de seguir as regras como os outros…
Por esta altura desisti de argumentar e fiquei parado a olhar para ele, a desesperar por um desfecho que me satisfizesse, mas estávamos a manter o trânsito parado há mais de um minuto. Cada um voltou ao respectivo veículo e eu fiquei a apontar a matrícula e o nome do agente.
Posto este episódio, peço-vos ajuda:
- Concordam em como o agente estava enganado?
- Concordam em como o agente, mesmo que tivesse razão, tenha procedido de forma errada? No mínimo, corroborou publicamente o comportamento da condutora que por pouco me tinha abalroado.
- Devo fazer um pedido de esclarecimento à polícia (não tenho a certeza se foi PSP ou polícia municipal, mas era de trânsito, e tenho a matrícula e o nome do agente)? Uma queixa?
- Que outros comentários ou sugestões têm para mim?
Muito obrigado a todos.