Mobilidade insustentável: O que é e que custos tem?
Inês Carmo 24FEV2020 05:06
GeralUm dos aspetos mais evidentes da falta de sustentabilidade no nosso país é o transporte rodoviário. O impacto no aumento de emissões, os consumos e a sinistralidade é elevado e faz do tráfego motorizado um grave problema para o meio ambiente. É por isso que, em oposição às medidas de mobilidade sustentável que estão nas bocas do mundo, há também que falar nas ações que resultam naquilo que é prioritário atacar: a mobilidade insustentável.
Infelizmente, este é o modelo predominante na maioria das cidades. Núcleos urbanos ocupados pelos carros, congestionados e com limites de velocidade altos que transformam as ruas noma selva onde os acidentes se sucedem, afetando especialmente aos coletivos mais vulneráveis.
Em que é que a mobilidade insustentável afeta a segurança rodoviária?
Os benefícios da mobilidade sustentável parecem ser claros e qualquer pessoa a quem se pergunte concorda com as medidas promovidas, mas, e se por um momento destacarmos os prejuízos da mobilidade insustentável? A absoluta dependência do automóvel afeta o bem-estar e a qualidade de vida , a competitividade das empresas e da indústria e conforma uma mentalidade antiquada com hábitos enraizados que custam a modificar a favor de condutas mais sustentáveis.
A segurança rodoviária vê-se afetada por tudo isto, uma vez que o reinado dos veículos nas estradas e nas ruas aumenta as possibilidades de um acidente, o stress pelo congestionamento no trânsito e a má adaptação às novas alternativas de mobilidade.
Engarrafamentos
Já o afirmou Díaz Ayuso: “os engarrafamentos são um cartão de vista de Madrid”. E essa é a maior preocupação dos que se deslocam durante as horas de ponta, mas também de quem vive fora das grandes cidades e querem desfrutar da oferta de lazer aos fins-de-semana. Além disso, os engarrafamentos são uma absoluta perda de tempo : em Espanha, os condutores passam quase 10 horas por ano parados no trânsito, dentro do carro. Este é um dos principais motivos por que muitos se decidiram a usar o transporte público para ir e voltar dos seus postos de trabalho, dado que a qualidade de vida e a conciliação familiar melhoram consideravelmente. E com eles a ansiedade e o stress ao volante diminuem, principais fatores de acidentes provocados pelo erro humano.
Ruído
Aqueles que têm a sua casa localizada dentro das grandes cidades reconhecem que este é outro fator de risco e que sem dúvida afeta a segurança. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que mais de 40% da população europeia está exposta a níveis de ruído que superam os 55dB . Isto, além de afetar o sono e a saúde psicológica dos cidadãos, faz com que o ruído do transporte urbano se transforma num poluidor invisível com muitos efeitos negativos sobre a saúde auditiva. Por seu turno, os carros “silenciosos” também ainda não encontraram o seu lugar nas estradas, uma vez que também têm um pequeno impacto nos números da sinistralidade, sobretudo na convivência com pessoas com incapacidade visual.
Sinistralidade
Os acidentes de trânsito transformaram-se na primeira causa de morte por acidente laboral em Espanha, principalmente devido ao enorme congestionamento dentro e fora das cidades. Os motivos? Como já falámos noutros artigos, perder tempo de descanso, conduzir com tensão, encontrar dificuldades de estacionamento e o stress por chegar tarde ao trabalho são chaves para favorecer o aumento de acidentes.
Exclusão social e laboral
Na nossa mobilidade atual predomina o veículo privado e isso faz com que aqueles que não têm um estejam em desvantagem competitiva com os restantes. Ter carta de condução e viatura própria são fatores importantes na hora de escolher alguém para um posto de trabalho. Além disso, muitas zonas industriais e empresariais situadas nos arredores das cidades não dispõem de boas conexões com os transportes públicos.
Poluição, consumo de solo e desperdício energético
O transporte é um dos maiores responsáveis pelas emissões de efeito de estufa e de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, o principal risco para a saúde à escala mundial. Juntamente com o aumento dos níveis nocivos da poluição, que provocam mortes prematuras (umas 430.000 em todo o mundo) e problemas cardiovasculares e respiratórios, acrescenta-se que o piso foi feito para o veículo a motor e consome mais de 60% da superfície urbana. Mesmo sem lhe dar uso (estando estacionado) o carro subtrai espaço para lazer, desporto e comércio, aumentando a agressividade do trânsito e reduzindo a autonomia de grupos populacionais, como idosos e crianças.
Quais deveriam ser as principais linhas de atuação?
Segundo organizações como a Ecologias em Ação, a ação mais necessária é a restrição do uso do carro. Para tal é necessário alterar a consciencialização em torno do transporte público, dando mais facilidades a este e menos ao motorizado, mas também reduzir o seu espaço na cidade com menos faixas e menos possibilidades de estacionamento nas zonas urbanas. Além disso, devem estabelecer-se perímetros de prioridade residencial e pedonal, limitar-se a velocidade e, inclusivamente, aumentar o número de portagens.
Claro, é necessária maior formação para poder dispor de todos os recursos para se deslocar com segurança. Informar os cidadãos para compreenderem que a restrição aos carros não é uma limitação das suas liberdades e comunicar a enorme problemática derivada do seu uso excessivo para não minimizar o seu impacto. Da parte dos responsáveis autónomos e locais deve haver um espaço aberto à colaboração, com políticas coerentes em relação ao incremento de comboios para os arredores, a melhoria das infraestruturas de transporte obsoletas e o fomento de meios urbanos mais ecológicos.
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“muitos se decidiram a usar o transporte público para ir e voltar dos seus postos de trabalho, dado que a qualidade de vida e a conciliação familiar melhoram consideravelmente.”
e
“muitas zonas industriais e empresariais situadas nos arredores das cidades não dispõem de boas conexões com os transportes públicos.”
Artigo coerente de facto…