O centro comercial como paradigma de uma sociedade autoólica

O centro comercial tipo “mall made in USA” é dos maiores monos urbanos que o século XX concebeu. Aqui na Holanda, com um frio gélido no inverno e com chuva em metade do ano, as pessoas enchem os centros históricos e fazem compras no comércio local. O estado aqui proibiu esses abortos urbanísticos desde há décadas e o próprio IKEA é quase no centro da cidade de Delft, logo, acessível até a pé. Em Portugal com bom clima, o pessoal enche os centros comerciais, muitos dos quais, como o Loures Shopping, obedecem ao paradigma da cidade profundamente autoólica. Com o comércio eletrónicos, estão destinados a falir. Ficam as lojas de bairro, com os produtos perecíveis e frescos, o cabeleireiro, a padaria e o café ou mesmo a tasca.

Ainda estamos longe desse paradigma, mas sim, caminhamos a passos largos para ser esse o panorama.

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Mas alguém ainda tem paciência para pegar no carro, estacionar num parque com 5000 lugares, para ir comprar pão?

Um caso muito interessante foi o centro comercial da Portela de Moscavide. Nunca fechou, porque teve sempre clientela, a clientela local, do bairro. Agora vede o caso do Loures Shopping que fica no meio do deserto e rodeado por vias rápidas?

Será mesmo? Estaremos a voltar para trás?
Recordo com nostalgia, a mercearia, a leitaria, a capelista e a padaria. Ficavam na rua onde cresci em Benfica. Todos fecharam, desapareceram completamente, as lojas mudaram de ramo ou estão fechadas. Voltarão a abrir nesse formato? Penso que não.

Penso que o caminho será mais pela desmaterialização do processo e menor interacção. Usamos um dispositivo móvel (um smart qualquer, smartphone, smartwatch) e recebemos os produtos na morada indicada.

Talvez alguns negócios voltem ao formato tradicional de loja de rua, mas não será o mainstream.

E como fazes com o corte de cabelo e a bica?

Aqui na Holanda o comércio local é muito forte e mesmo os grandes retalhistas têm uma lojinha em cada bairro. Há uma padaria, uma florista, um cabeleireiro, um minimercado, uma costureira, oficina de bicicletas, etc. Tudo aquilo que não podes fazer online. Agora as Wortens e derivados não têm futuro. Vais uma Worten e o funcionário percebe menos que tu. Na loja online tens uma série de comentários de gente que percebe e usou o produto. Mesmo roupa, compro quase tudo online. Por isso os hipermercados não têm futuro. Pegar no carro para ir comprar pão é simplesmente de loucos tal a irracionalidade.

Corte de cabelo e bica? Não sei… :slight_smile:

Mas existem sempre alternativas. Barbeiros e alfaiates ambulantes já existem, deslocam-se a casa ou ao local de trabalho. Têm custos fixos menores e mudam de área geográfica facilmente.

O Nespresso é conveniente e consegue ter bastante qualidade. Parece-me um bom substituto da bica.

Penso que a violência crescente e a poluição condicionarão cada vez mais a permanência na rua e isso não será vantajoso para o conceito de comércio local.

A rua será cada vez mais um local de passagem.

Pelo caminho compra-se o que se pretende (virtualmente) e recebe-se no destino. Será só apontar ou encostar um dispositivo a algum terminal ou talvez um drone irá ter connosco para recolher o pedido ou entregar o produto.

Estamos muito perto de a máquina de lavar roupa, frigorífico ou mesmo a despensa conseguirem prever falhas de suprimentos e encomendar diretamente a fornecedores pré selecionados.

Concordo com o desaparecimento dos centros comerciais mas duvido que sejam substituídos pelo modelo de comercio local.

Se tenho de sair de casa para comprar, porque não trago logo o produto? Para isso compro sem sair de casa!

Se o barbeiro vem a minha casa, limpa também o chão dos cabelos? Não é impossível, já cortei o cabelo em casa, mas é mais fácil num barbeiro.

A bica foi um exemplo. E o pão, os bolos, etc., fazes tudo em casa?

Uma das razões pelas quais as ruas estão violentas, é devido às pobreza e à desumanização do espaço público, feito para o automóvel.

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Em Aveiro, um centro de comercial vai ser aumentado penso que de 2 para 4 pisos e de 1500 lugares de estacionamento para 2000. E numa zona já altamente congestionada por tráfego automóvel, ainda dentro do núcleo urbano da cidade. Uma aberração. Acho que foram necessárias alterações ao PDM para aprovar o projeto. E o presidente, cheio de orgulho, diz que foi o projeto onde investiu mais tempo no seu anterior mandato. Para que os aveirenses não tenham que ir a Coimbra ou ao Porto comprar daquelas marcas chiques.

http://www.terranova.pt/noticia/economia/ja-nao-se-justifica-nem-por-ignorancia-continuar-aprovar-estes-projetos-pedro-silva

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Concordo. O automóvel veio para o bem e para o mal. As estradas encurtam distâncias entre populações mas ao mesmo tempo causam cisões em alguns agregados populacionais.

Contudo vejo mais um futuro em que exista um sistema central baseado em Inteligência Artificial a gerir uma frota global de veículos autónomos partilhados em complemento ou mesmo em substituição do sistema de transportes públicos, do que passarmos a usar a bicicleta.

Porventura haverá sempre o veiculo privado, também autónomo, mas será tão caro de adquirir e manter que esta opção terá um estatuto de luxo e de símbolo de status social.

:slight_smile:

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Essa é a visão do Elon Musk, fortemente contestada por vários urbanistas: http://humantransit.org/2016/07/elon-musk-doesnt-understand-geometry.html

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Não tinha lido. O Sr. Elon Musk anda lá perto mas… :slight_smile:

O fundamento dos urbanistas também carece de visão. Com a habitação houve uma transição das casas mono familiares para os arranha-céus atuais, cada vez mais altos.

Vejo a questão da mobilidade da mesma forma. Usaremos o “3ª dimensão”, é inevitável.

Basicamente a minha ideia é que a tendência não é passarmos a andar mais a pé ou de bicicleta. Usaremos a rua mais como local de passagem e menos como local de permanência. Haverá locais especialmente concebidos para passear ou permanecer e talvez aqui voltaremos ao comércio no modelo tradicional.

Enfim… Também gosto de sonhar, não tenho é tantos recursos, em vez de construir automóveis elétricos e ir ao espaço, tenho (uma) bicicleta elétrica e vou de eletrico à Estrela. Já não é mau… Digo eu. :wink:

Em Oeiras estão também a ampliar o OeirasParque. Está em obras já há uns bons meses.

Quando estive em Dublin, haviam alguns centros comerciais no centro da cidade (aí uns 2 ou 3), e sem parque de estacionamento…
São outros países. Outras mentalidades. A comparação torna-se difícil até.
Em Portugal temos Magdazinhas…

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Impressionante como se subvertem conceitos para suportar fundamentalismo anti-automóvel.

Ora os centros comerciais foram criados como um espaço comum com várias lojas onde apenas circulam peões sem interferência de veículos motorizados e não motorizados e com protecção dos elementos atmosféricos. Portanto algo completamente contrário do que querem fazer crer.

Nos zonas suburbanas recorre-se ao automóvel para chegar aos centros comerciais simplesmente porque o espaço onde são construídos não possui rede de TPs. Ainda assim muitos são os shoppings que oferecem shuttles gratuitos.

Quanto a Dublin, é de longe o pior exemplo em termos de tráfego automóvel com congestionamentos permanentes, a rede de TPs é sofrível e os shoppings em Dublin são minimalistas e com horários bem restritos.

Também achei piada ao IKEA no centro da cidade. Alguém vai ao IKEA comprar um móvel que pesa 50 Kg e transportá-lo às costas de bicicleta? Sim, o serviço de entrega existe mas custa caro e elimina por completo a vantagem competitiva dos artigos de mobiliário IKEA. Mas como é hábito a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha mesmo que esteja podre. Mas mais medíocres são estes exemplos avulsos e descontextualizados de gentinha que esteve ou está no “estrangeiro”, porque o “estrangeiro é que é bom e vocês tugas residentes são uns ignorantes”.

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ikea3

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Onde é que essas caixinhas pesam 50 kg ? E se estiver a chover? Como se sabe o aglomerado e cartão são grandes amigos da água…

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Toda a gente sabe que no norte da Europa não chove…

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Deves pensar que o Ikea anda a dormir. É claro que todas as embalagens de cartão cabem nos intervalos da chuva…

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