Porto - estradas em paralelo representam perigo

Ciclista no dia-a-dia por opção, acompanho sempre que posso o importantíssimo trabalho desenvolvido pela Associação MUBi junto da sociedade civil, dos decisores políticos, no seu fórum, etc. Infelizmente, por motivos familiares e de trabalho, não pude acompanhar os debates e consultas públicas a propósito do PDM no Porto nas últimas semanas, mas julgo que o tema que aqui trago não foi debatido. E lamento se já for tarde demais.

Assisti, na passada semana, a um episódio na cidade do Porto, que por poucos centímetros ou frações de segundo não terminou em tragédia.
Numa semana marcada ora pela chuva abundante ou pela morrinha, ora pelo intenso nevoeiro ou humidade constante, um ciclista com fato refletor completo da B.TWIN apareceu em prudente marcha lenta na descida entre o Largo da Paz e a Praça Pedro Nunes (Conservatório de Música/Escola Sec. Rodrigues de Freitas), no Porto. Com a tomada e largada de alunos de ambas as escolas, o trânsito na zona é sempre intenso, com a presença de carros em segunda ou terceira fila, pelo que um carro vindo do parque de estacionamento da praceta, que ainda assim não terá visto o ciclista (!!!), atravessou-se literalmente à sua frente. O ciclista com enorme dificuldade, mas com boa dose de sangue frio e imensa destreza, conseguiu contornar o carro, usando-o inclusivamente como ponto de apoio. That was close!

Na minha opinião, estradas [ainda] em paralelepípedos é algo incompatível para qualquer cidade moderna que se queira afirmar como segura para os seus utentes. Se a isto juntarmos a enorme percentagem de humidade tão frequente no Porto, vinda de neblinas, nevoeiro, morrinha ou chuva, tal tipo de pavimento tão escorregadio aumenta exponencialmente o perigo de acidentes graves ou muito graves. Já para não falar do doloroso e enorme desconforto que os ciclistas sentem ao circularem em vias em paralelo, dos danos imediatos que as bicicletas sofrem em termos de suspensão, eixos das rodas, câmara de ar, parafusos e outras peças que se soltam… É, de facto, incompatível para a segurança e para a manutenção das bicicletas.

Gostaria, pois, de saber, que considerações existem ou se já foram feitos estudos, propostas ou se existem planos de substituição de tão anacrónico e perigoso pavimento, apenas presente de forma residual em algumas zonas da cidade, incorretamente associadas à manutenção do aspeto pitoresco ou de se estar perante “qualquer coisa de antigo”, ainda que o pavimento tenha acabado de ser recolocado no dia anterior! Sarcasmo à parte, fica a pergunta: mais importante é o aspeto da rua, ou a sua segurança? Ou ainda: se o largo da Paz e do Priorado estão em paralelo, porque é que a R. Anibal Cunha que a atravessa já está asfaltada? Se a Rua Pedro Alvares Cabral está em paralelos, porque é que então a Praça da República, ainda mais próxima do centro, já está com asfalto?
E, se os meus argumentos não são ainda suficientes para convencer quem prefere manter a “traça antiga”, pelo menos, por questões de segurança, considero que urge retirar todo e qualquer pavimento de paralelo das imediações de todas as zonas escolares.

Tiago Cassola Marques, sócio MUBi Nº 1344
Porto, 15/12/2020

2 Curtiram

Viva,
Penso que é um tema muito complexo, que não é fácil resumir à questão racional que referes, até porque (além da questão emocional se quiseres) também há pontos positivos.
O cubo de granito é um clássico no Porto e no norte.
Na malha densa antiga mudanças de abordagem quanto a isso podem acontecer, já aconteceram no passado, mas é sempre um tema sensível.

Neste momento, em que tens muita gente a torcer o nariz “aos maluquinhos das bicicletas” que ganham espaço, aparecer na Câmara com a teoria de mudar o cubo por causa das bicicletas … é de levar um tiro :sweat_smile:

2 Curtiram

Os paralelos, também têm a vantagem de reduzir os carros a andarem a grandes velocidades…

1 Curtiu

Bem-vindo ao fórum. Esperemos que seja a primeira de muitas contribuições para o debate acesso mas sempre interessante. Existem outras categorias que tb podes explorar aqui no fórum, sobre diversas temáticas ligadas à mobilidade activa.

Sobre os paralelos, no norte ou qualquer outra localidade, tenho mix feelings, mas nenhum por causa da tradição. Em ruas de possibilidade muito baixa de velocidade nada contra, em avenidas e ruas mais movimentadas que já torna o deslizar um sacrifício gostaria de ver soluções como apresentada em cima de um alisamento dos paralelos. Creio que os paralelos acabam tb por reduzir parte da velocidade do trânsito motorizado, pelo que é bom se sentido.
Talvez no futuro hajam compromissos em que parte das avenidas possam ter pequenas linhas /faixas de alcatrão ou cimento no meio do empedrado, um pouco como se fez em Lisboa nos passeios, não se acabou com a calçada de pedrinhas brancas escorregadias (que abomino) mas fez-se umas misturas com cimento branco, que permite um melhor conforto, segurança e durabilidade.

A MUBi Porto está dinâmica, juntar-te a essas discussões e trabalhos, conhece as pessoas, juntos seremos sempre mais fortes.

3 Curtiram

Convém referir que em Lisboa decidiram usar um betuminoso melhorzito… muito do que é usado nos passeios do Porto deixa a desejar.

1 Curtiu

Essas pedras não são alisadas, pelo que sei.
São paralelos em cimento / betuminoso com polimento e tratamento estético de forma a não destoarem do original. Na Holanda existem também soluções semelhantes, se bem que o tijolo típico holandês é já de si bem mais agradável para pedalar que os nossos paralelos.

3 Curtiram

As estradas em cubo, além da identidade histórica, têm um papel importantíssimo na permeabilidade das cidades e absorção de chuvas que outrora não conseguiriam ser escoadas, quer por “mau desenho” das redes pluviais, quer pelo lixo que as torna inoperacionais. Podem ser mais confortáveis para bicicletas caso tenham a devida manutenção, sejam alisadas ou aplicadas de modo especifico como referiu o alexandre acima. Acho que “betonar toda a cidade” é mais um exemplo do mau urbanismo que temos em Portugal

3 Curtiram