Venda de carros cai 86,5% em 15 dias. ACAP pede estímulos à procura

Começou o choradinho da “indústria” automóvel nacional. Digo entre aspas porque excetuando a fábrica em Palmela, o negócio praticamente se limita à importação, sendo que agora essa gente quer que os contribuintes apoiem um setor que se baseia apenas na importação e que provoca um estrondo enorme na nossa balança de pagamentos, considerando demais os combustíveis. Já para não mencionar o ambiente, a sinistralidade ou a saúde pública.

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Já tinha começado há um mês:

Mas eles argumentam que:

  • o próprio Estado já terá perdido 15 milhões de euros [em receitas fiscais] com este abrandamento,
  • O sector “é responsável por 21% do total de receitas fiscais,
  • por 25% das exportações de bens transaccionáveis,
  • representa 19% do PIB
  • e emprega directamente 200.000 pessoas”.

O Estado ter perdido 15 M€ em receitas fiscais resultante da venda de menos carros, acho q pode bater certo. Entre 1 Jan e 14 Abril foram vendidos menos 5370 (6208-838) carros do q no ano anterior. A 3 mil Euros q cada carro em média pague de impostos (será só isto?), dá os 15 M€.

O sector ser responsável por 21% do total de receitas fiscais:.
Há um ano, a ACAP exponha a coisa assim:

No ano passado, os impostos ligados ao setor automóvel representaram praticamente um quinto do total de receitas fiscais arrecadadas pelo Estado português, indicou esta quinta-feira a ACAP.
[…]
De acordo com a associação, os impostos associados aos automóveis totalizaram 8.820 milhões de euros. Este valor inclui o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP), que contribuiu com 3.198 milhões de euros, o IVA sobre os veículos (2.631 milhões de euros), o IVA sobre os combustíveis (1.365 milhões), o Imposto sobre Veículos (ISV), com 767,1 milhões de euros, e ainda 643,9 milhões relativos ao Imposto Único de Circulação (IUC) e 195 milhões relativos ao IVA sobre as portagens.


Exportações:

Exportações de componentes automóveis subiu 4,2% em 2019 para 9,75 mil milhões de euros

https://www.dinheirovivo.pt/empresas/exportacoes-de-pecas-para-carros-batem-recorde-em-2019/

exportações do setor automóvel tiveram um crescimento muito significativo em 2019, que atingiu os 13 mil milhões de euros

Em 2019 Portugal exportou 60 mil M€ de bens. 13/60 = 21.7%


PIB:

Sobre o PIB, afinal parece que a coisa estará mais entre os 6 e os 7%:

Aliás, como quase tudo é exportado, basta dividir os 13 mil M€ de exportações pelo PIB portugues de cerca de 200 mil M€: 13/200=6.5%.
Eventualmente a ACAP estará a considerar mais coisas para além do sector industrial.


Emprego:

Os 200 mil postos de trabalho devem vir daqui:

O setor automóvel em Portugal é responsável por 27% dos empregos gerados na indústria transformadora nos últimos quatro anos e emprega diretamente 72 mil pessoas – número que representa 10,8% da empregabilidade nesta indústria e a que acrescem, ainda, cerca de 130 mil postos de trabalho indiretos

https://inforh.pt/empregabilidade-no-setor-automovel-ira-aumentar-ate-2020/



O q poderia parecer um bacado exagerado pela ACAP, se calhar é mesmo assim.

Mas, e principalmente sendo a produção industrial quase toda para exportacção, estamos aqui perante duas coisas bem independentes. Que a ACAP prefere misturar pq lhe dá jeito.

Uma: A produção industrial para exportação.
É verdade q tem um peso grande na economia portuguesa. Mas em termos económicos, é indiferente q produzam guarda-chuvas ou armas de guerra.
Sabemos que haverá um valor acrescentado da indústria portuguesa, mas falta à ACAP dizer qual é o peso nas importações de bens transacionáveis.

A outra: A venda e utilização de automóveis em Portugal
Tem efectivamente um peso importante nas receitas fiscais do Estado Português. E o lobby automóvel tem-nos “vendido” repetidamente apenas esta parte, como aliás faz agora a ACAP.
Mas falta o resto.
Valor das importações de combustíveis
Valor das importações de automóveis
(se a ACAP quer pôr tudo no mesmo bolo, então devia tb indicar quais os valores de importações)
E depois os tais custos directos e indirectos consequentes da utilização do automóvel: infraestruturas, ambiente, saúde, sinistralidade, e outros, nalguns casos difíceis de quantificar, mas q bem se sabe serem mt superiores às receitas fiscais.


Curiososo q agora:

a ACAP propõe “um aumento, imediato, da linha de apoio à compra de veículos eléctricos que deverá ver a sua dotação aumentada em 100%”.

Quando ainda há menos de um ano condenava os objectivos do Governo de redução de emissões:


Quando foi da crise 20088-2009, o Durão Barrososo deu à indústria automóvel europeia 7.5 mil M€ para investir em carros menos poluentes:

Amid the 2008-2009 financial crisis, Barroso’s European Economic Recovery Plan injected €7.56 billion cash loans into the EU car industry. On paper, these huge sums, rising to over €20 billion by 2015, were supposed to help investment in green cars. In practice, carmakers cheated emissions tests (culminating in Dieselgate), the gap between real-world and lab fuel consumption sky-rocketed, SUV sales boomed, and, apart from Renault and BMW, no-one invested in electric cars.

Diz-nos a autora:

Taxpayers should also not be asked to foot the bill for the temporary drop in revenue and profits of an industry that until recently had recorded huge profits: the VW Group earned a record net profit of over €19 billion in 2019, FCA €4.3 billion, €3.58 billion for PSA and €2.7 billon for Daimler - enough to sustain a short-term setback. Support measures must come with conditions. First, workers’ job security must be top priority, not shareholder profits. Second, scrappage schemes and other support measures should be focused on electric cars;

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What? Estímulos à compra de carro? Eu li bem?

Epa porque não estimulam também o consumo de álcool e tabaco? O tabaco há muitos anos que vem perdendo mercado a pouco e pouco, e o álcool também teve uma valente queda com esta crise… ainda por cima são sectores com muita produção nacional?

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Rui, tu aqui fazes a análise sucinta da questão.

Em relação à receita fiscal fica a pergunta: por cada euro que o estado arrecada de receita fiscal, quantos euros são colocados no estrangeiro, criando défice da balança de pagamentos? Dou-te um exemplo simples, imagina que amanhã, nós portugueses, dávamos todos 100 euros ao estado português mas ao mesmo tempo dávamos 1000 euros ao estado alemão. Valeria a pena, em termos macroeconómicos? Obviamente que não, porque estávamos a retirar demasiada liquidez da economia nacional. A economia não se limita às contas públicas.

Outra nota: mencionar empregos indirectos é muito vago. Por esse prisma podes dizer que o Pingo Doce emprega centenas de milhares de pessoas: produtores agrícolas, fornecedores, os que trabalham para os fornecedores, quer dizer, qualquer empresa que esteja a montante na cadeia de negócio beneficia com as vendas do Pingo Doce. Podemos dizer que o Pingo Doce dá emprego ao timorense que anda a recolher café?

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Outro custo que nunca é referido pela ACAP: a sinistralidade rodoviária. Não sei os valores para Portugal mas, hoje, por acaso, tombei sobre este relatório holandês (mas em inglês):

Lá, a sinistralidade custa cerca de 2% do PIB deles! Quanto será cá?

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Mas era preciso verificar se contabilizam a mesma coisa.

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@Aonio_Lourenco:




http://www.portugalglobal.pt/PT/RevistaPortugalglobal/Paginas/RevistaPortugalglobal.aspx

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