As externalidades do automóvel em Portugal

Nuro, de facto depende da contabilidade mas normalmente espaço e preços das infraestruturas não são considerados externalidades.

Esses custos devem ser considerados em análises custo/benefício feitos antecipadamente. Caso o estado considere por exemplo que a obra tem interesse público (ligar uma AE ao inteiror) pede a uma empresa de amigos para fazer uma análise custo/benefício favorável e o custo da obra fica a cargo do orçamento de estado.

Agora a sério! Uma externalidade é um custo para terceiros que o próprio não considerou com a sua acção. Se a análise custos/benefícios estima, por exemplo, que uma AE é benéfica face aos custos (as AEs são mais seguras e emitem menos poluentes locais, e evitam o congestionamento) o saldo custos vs. ganhos em relação à situação anterior, já foi considerado aquando da obra e as duas parcelas em principio anulam-se com a obra.
Se agora adicionasses ainda o custo da obra como externalidade, terias de considerar também as menores externalidades que obra trouxe em relação à situação anterior.

Isto é na teoria. Na prática, devido à subjetividade, funciona como os estudos de impacto ambiental. Haja “vontade política” e qualquer obra se faz independentemente do custo, do local e do tráfego. Vê o caso do Marquês em que todos os estudos deram parecer negativo. Repara ainda que nem metade das AEs do país tem o tráfego estimado pelas diversas análises custo-benefício que justificaram as respetivas AEs.

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Este trabalho da Universidade Técnica de Dresden aparece referenciado num artigo (de 2012) do The Guardian:

«The idea that drivers are “the cash cows of our society” is wrong, the authors write: “On the contrary, it must be stated that car traffic in the EU is highly subsidised by other people and other regions and will be by future generations: residents along an arterial road, taxpayers, elderly people who do not own cars, neighbouring countries, and children, grandchildren and all future generations subsidise today’s traffic.”?

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Nem a propósito

@MarioJAlves, a propósito da nossa conversa (negrito meu)

O primeiro-ministro, António Costa, reconheceu hoje, em Leiria, a necessidade de uma “maior atenção” das políticas públicas para o setor automóvel, pela capacidade de este gerar cadeia de valor, emprego qualificado e de contribuir para as exportações.

“O ‘cluster’ automóvel é fundamental para o futuro da economia portuguesa”, pelo que “tem que ter a maior atenção por parte das políticas públicas”, defendeu o primeiro-ministro na sessão de apresentação do estudo sobre a relevância e tendências de futuro da indústria automóvel.

A este propósito, António Costa destacou a diversidade do setor pela “capacidade que tem de gerar emprego qualificado, de dinamizar o número de setores económicos, de contribuir para o aumento das exportações e por ser um incentivo importante para o desenvolvimento da capacidade de inovação, desenvolvimento e conhecimento em Portugal”.

Constatando que se trata de uma área que “carece de investimento”, o governante defendeu que “a primeira política pública que é essencial casar com o setor” é a que se destina a “criar boas condições para o investimento”.

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O handbook de 2008 da CE Delft (https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/themes/sustainable/doc/2008_costs_handbook.pdf) foi atualizado em 2014:

Tirado daqui:

Publicado hoje:

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Excelente gráfico João, muito obrigado.
Esse gráfico das externalidades por modo de transporte está fantástico e é mais um alicerce para desmistificar a máxima da porca burguesia motorizada de que paga muitos impostos.

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E este custo?

“Natal seguro” e “15 mortes” na mesma frase é sintomático do estado das coisas.

@Nuno e mais 8 contabilizados na operação da passagem de ano.

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“O seu carro vai apenas a 5-6 km/h. Infelizmente um defeito no sistema de travagem, fá-lo chocar contra uma parede. O sr. Joseph Cugnot está assim na origem do primeiro acidente rodoviário e acaba sendo preso, acusado de ser um perigo público”.
É uma pena que o conceito de perigo público e a respectiva punição, tenham regredido de 1769 para cá.

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muitos anos de marketing e influência política e jurídica.

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Curioso no mínimo. Na época, se fosse alguém atropelado por um cavalo ninguém ligava!

Sim, é uma conspiração!

Não, não é uma conspiração. Chama-se lobby. Existem nas mais diversas áreas e até certo ponto fazem sentido. No entanto, como em tudo na vida, sem moderação perdem o sentido. Exemplos de lobbys que perderam a noção além do lobby automóvel: armas e combustíveis fósseis.

Em sentido contrário, é hoje em dia muito necessário fazer lobby pela mobilidade suave.

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Nenhum lobbie faz sentido, constituem antes grupos de pressão anti-democráticos!

correcto, mas um lobby mesmo muito forte, pois envolve muito mais que apenas receitas para determinadas empresas.

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E assim se inventam mais impostos sobre cidadãos sem alternativas !!

Não têm que ser os outros a subsidiar a sua vida.

Li o artigo na íntegra, muito obrigado @jmpa

Realço este trecho

The preliminary findings from the study show that the external costs of all transport have now been estimated at €1,000 billion annually, or 7% of the GDP of the 28 EU nations. This is far higher than previous calculations.

É um valor assustador, e tal como refere o @ZeM não têm de ser os outros a pagar o estilo de vida de cada um, por isso estamos de facto perante uma medida liberal, pois internalizamos os custos externos de uma opção livre de um cidadão.

Mas o @Three também tem parcialmente razão. Pois se não prividenciarmos alternativas, aumentar a taxação implica apenas aumentar o custo de vida sem qualquer ganho ambiental. Além disso essa taxação sobre os automóveis não serve para melhorar o ambiente ou para providenciar alternativas, mas para alimentar a máquina geral do estado. Recordo que um Imposto (IA, ISP, IUC), por definição fiscal, ao contrário de uma taxa, é sempre não consignado, ou seja, o estado usa o dinheiro como bem lhe aprouver.

A já mencionada Lei do Orçamento de Estado (LOE) para 2004 trouxe uma inovação no seu artigo 38.º: a criação de um adicional sobre os produtos petrolíferos e energéticos que se destinava a financiar o reflorestamento do país, ou seja, uma taxa adicional que incide sobre a matéria colectável do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP). Isto significa que o imposto principal onera cada litro de gasolina em 0,005€ e cada litro de gasóleo rodoviário e gasóleo colorido e marcado em 0,0025€, sendo estes valores incorporados na taxa unitária que é fixada para o ISP (GERALDO, 2013: 59). Este adicional constitui receita própria do FFP até ao limite de trinta milhões de euros anuais. No entanto, verifica-se que este valor nunca foi atingido na prática, o que significa que toda a receita do adicional ao ISP está consignada ao FFP.

https://wikiglaw.fd.uc.pt/mediawiki/index.php/Adicional_(do_ISP)_para_a_Floresta

https://www.dinheirovivo.pt/economia/subida-dos-precos-do-carbono-favorece-fundo-ambiental/

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:slight_smile:

Isso é apenas o “adicional”, que é uma ínfima parte do valor total do imposto.

Além disso, temos garantias que esse valor foi mesmo canalizado para as florestas?