A questão é fascinante pelas avenidas de debate que abre em termos operacionais, éticos, jurídicos, etc.
Uma questão interessante, para para além da tecnologia, tocada nos nos dois artigos, e que muitos acham que atrasará a adopção da condução automática, muito para além das possibilidades técnicas, é a questão da responsabilidade e seguros. Segundo parece, o piloto automático dos aviões poderia dispensar totalmente os pilotos humanos. Uma das razões porque eles estão lá é para servirem de “bode expiatórios” - em caso de falha do sistema, nunca é a empresa que fabrica o piloto automático a ir à falência com um processo em tribunal, mas esta responsabilidade cai sobre o “erro humano” de um (geralmente) morto (o piloto humano).
O artigo sobre os dilemas éticos é muito bom. Aliás já me tinha interrogado: passarão os peões e ciclistas a ter prioridade absoluta sobre os automóveis? Na prática um peão ou ciclista poderá “atirar-se” (agora sim pareço o Barbosa) com a certeza que o carro travará eficientemente e quase imediatamente. Eu estaria tentado a experimentar
Um aluno de antropologia que acompanhei num estudo do Largo do Rato (publicado pela Assirio-Alvim / ACA-M), observou aquilo que chamou a “arrogância da fragilidade” - principalmente os peões idosos, sabendo que os condutores têm (em princípio) extremo cuidado para não os atropelar, comportam-se com alguma “autoridade” em comportamentos ilegais, sabendo que as suas vidas seriam poupadas . Com condução automática “jaywalking” passa imediatamente a ser possível, seguro, até subversivo, e possivelmente cómico (partindo do princípio que a maquina funciona)!
A outra questão interessante é que a condução automática irá permitir distâncias bem mais curtas entre veículos, fora das zonas urbanas, mas também dentro das zonas urbanas. Este facto faz com que alguns defendam que ajudará a reduzir o congestionamentos, porque “compactará” o fluxo de veículos motores (como se a procura fosse constante e não aumentasse perante este novo “espaço” encontrado). Mas este pequeno grande detalhe, tem enormes impactos na qualidade de vida das nossas cidades. Como diz o @JoaoBernardino a advocacia da segurança dos mais vulneráveis passará muito por aqui: já pensaram que o que torna possível grande parte dos atravessamentos em zonas urbanas, são precisamente as brechas aleatórias entre veículos. Imaginem um “comboio” de carros às distância exacta de 23 centímetros entre eles. Mas, okay, podemos forçar o atravessamento em qualquer lugar, porque a software “ético” estancará rapidamente o carro perante a fragilidade do peão!
Para quem se interessa por questões éticas associadas á “segurança rodoviária” o último post da Ciência Rodoviária no facebook sobre o ABS. Infelizmente o número de comentários é demasiado longo.