Masculinidades

Os meus 2cts.

Pessoalmente e sem base cientifica relevante, penso que o uso frequente da bicicleta como meio de transporte está mais relacionado com questões psico-sociais do que com o género ou características dos locais.

As atitudes/normas/valores, as crenças, os papéis sociais, as pressões sociais, o salário, riqueza, ou outros recursos pessoais parece-me que influenciam mais a decisão de usar a bicicleta diariamente do que outro fator.

Por exemplo, se alguém decide passar a usar um motociclo nas suas deslocações diárias, sob o pretexto da economia, facilidade de estacionamento e rapidez na deslocação, mas tem uma posição social elevada, digamos, um médico, não vai comprar uma scooter 50cc, mesmo que o percurso seja de alguns Kms dentro da cidade, vai comprar uma BMW 1200GS com 250Kg e capacidade de bagagem de fazer inveja a um Smart.

LR

Nao entrando em sexismos, teremos sempre alguma discrepância entre a
quantidade de homens versus mulheres a andar de bicicleta,pois fisicamente
o homem tem mais apetência ao esforço físico versus a mulher. Basta lembrar
as aulas de educação física na escola.

A sexta, 25/05/2018, 18:06, Luis Rocha [email protected] escreveu:

porque, como explanei, isso só acontece nas cidades bike-unfriendly. Nas cidades bike-friendly não vês essa diferença, porque andar de bicicleta não é um desporto, não exige um enorme esforço físico, é um modo de mobilidade, tal como andar a pé. Aqui na Holanda vês tantos homens como mulheres a pedalar.

pelas razões que anteriormente referi, também não julgo, que nas cidades bike_unfriendly os meios económicos pesem muito na escolha. A maior parte, senão a maioria, das pessoas que conheci em Lisboa, que usa a bicicleta, não é porque seja pobre e não tenha dinheiro para carros; mas porque quer, porque tem consciencialização ambiental, urbana e cívica e porque quer estar em forma. Nas cidades bike_friendly talvez esse fenómeno seja mais vincado, tal como o é, por exemplo em Portugal a dicotomia das pessoas que usa carro vs transportes públicos.

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Muito importante iniciativa! :slight_smile:

Teremos sempre papéis de género demarcados, enquanto assim continuarmos a ser educados. Quando os brinquedos e o tempo livre das crianças deixar de ser pensado por género, poderemos conseguir efetivamente deixar sexismos à parte.

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Pois, justamente, o género inclui-se nas questões psicossociais, na própria construção da identidade, passando pelos papéis sociais e normas apreendiddas, num dado contexto.
Basta pensar em questões tão comezinhas como vestuário e transpiração. Os papéis de género requerem, regra geral, que as mulheres se preocupem mais com a aparência, o que é um fator dissuasor ao ponderar a opção da bicicleta, dado que muitos locais de trabalho não têm condições, para tomar duche ou mudar de roupa.
Eu, pessoalmente, faço um trajeto curto, n sinto necessidade de tomar banho, mas mudo de roupa, pois tenho um espaço q posso fechar por dentro. Mas, por exemplo, embora n fosse um hábito vincado, deixei gradualmente de usar maquilhagem qd comecei a usar a bici diariamente. Porque nessa altura ainda não estava habituada ao esforço físico, transpirava mais e se viesse feita de casa, borratava! Se fizesse depois, dava trabalho e causava algum embaraço estar a fazer isso ao espelho do wc coletivo! :grinning:

Este tema é bem interessante. Evidencia as diferenças de género, comportamentais e sociais.

Encontrei alguns artigos sobre esta temática, especialmente nos EUA e Canadá. Nestes países as mulheres representam cerca de 30% do total de ciclistas (commuters). Na Dinamarca, Alemanha e Holanda são cerca de 50%.

O mais apontado pelas mulheres para optarem por não usar a bicicleta (em commuting), prendem-se principalmente com a percepção do risco.
A mulher é mais avessa ao risco (neste tema), sente-se mais insegura do que o homem em cima da bicicleta e considera mais arriscado circular em zonas de tráfego automóvel intenso. Aqui sem duvida evidencia a questão das cidades bike-friendly referida pelo Aónio .

Outros motivos indicados estão ligados com o papel social da mulher, que a Vera referiu.
A maquiagem, o local para se arranjar, maior desconforto com suor, mas também a necessidade de transportar mais itens, de fazer algumas compras no regresso a casa e terem horários mais extensos que os homens.
Foi também referido o assédio na rua, em particular durante a primavera e verão.

Ainda temos muito que evoluir… :slight_smile:

LR

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Vera, concordo que a iniciativa seja importante, mas se calhar é um bocado ao lado.

A questão do esforço pode resolver-se bem usando uma bicicleta com assistência elétrica.

O tema é mais complexo e ultrapassa a questão física.

LR

Julgo que a iniciativa procurava usar a bike mais pesada como metáfora da situação de desigualdade social de género que afeta as mulheres, impondo-lhes maior esforço e mais barreiras na vida quotidiana.

Acho estranho aceitar-se a possibilidade de as mulheres serem mais aversas ao risco como uma diferença real entre homens e mulheres. Isso poderia explicar, por exemplo, as diferenças salariais. Quando nós sabemos que na realidade as diferenças salariais são única e exclusivamente explicadas pela discriminação de género, pois homens e mulheres são completamente iguais em todos os aspetos, sendo quaisquer diferenças aparentes explicadas pelo facto de desde que nascemos serem-nos incutidos diferentes papeis consoante o nosso género. /s

A realidade social é socialmente construída, composta por representações( ideias) e práticas (ações, comportamentos). Os géneros são parte dessa construção, implicando ideias mais ou menos rígidas do que é ser homem ou mulher e defenindo comportamentos corretos e sancionáveis, de modo mais ou menos rígido, consoante o contexto social.
Como seres humanos o que vivemos é essa realidade que construímos. Se as mulheres se demonstram menos dispostas ao risco porque isso lhes foi inculcado, esse condicionamento social é real, tal como a sua ação individual ou coletiva.
Essa ação individual e coletiva tem, sim, o poder de alterar as estruturas sociais, de questionar os padrões estabelecidos, de transformar a realidade social.
É esse caminho de mudança que defendo e considero que o uso de bicicleta é uma boa estratégia para isso. Não sou um ser frágil, porque sou mulher, não deixo de usar a bici por medo do trânsito. Não sou incapaz de sujar as mãos na bicicleta, não preciso que me ajudem a carregá-la se tiver que pegar nela numa escada, por expl.

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Sem qualquer base sociológica subjacente, mas também sem fundamentalismos.

Os dados que referi foram obtidos por inquérito direto e acredito que cumpram os requisitos estatísticos para puderem ser usados com confiança.

Não me parece que a aversão ao risco seja um fator social incucado.Todos nós somos avessos ao risco, homens e mulheres, é a natureza humana.

As mulheres são capazes de assumir riscos e de esforços excecionais, existem vários testemunhos históricos dessas capacidades. Mas no que respeita a usar a bicicleta diariamente em situações de tráfego intenso consideram arriscado. Acho que daqui não vem mal ao mundo :slight_smile:. Até porque isto resolve-se (as tais cidades bike friendly por exemplo).

Homens e mulheres são diferentes e têm capacidades físicas e mentais genéticas distintas, é um facto! O que não entendo é porque este facto deva ser considerado um handicap. Isso sim, é socialmente imposto.

Há uns anos tive oportunidade de participar numa exposição interativa muito interessante no pavilhão do conhecimento. Versava o tema da Humanidade, mas principalmente as diferenças entre género (capacidades físicas e mentais genéticas, nada de socialmente imposto).
Havia várias atividades especialmente desenhadas para fazer sobressair determinadas capacidades e apresentavam os resultados estatísticos do publico que a fez em conjunto com dados históricos obtidos por milhões de outras pessoas.

Efetivamente revelaram diferenças entre os géneros, muitas atividades tinham distribuições à volta dos 70% / 30%, pendendo para os homens ou para as mulheres conforme as características particulares com que foi desenhada (nada de social aqui).

Eu e a minha mulher experimentamos várias e pudemos constatar esses resultados, nada socialmente imposto.

Nada de social nas caraterísticas biológicas, hã?

Porque será então que há mais pessoas com intolerância à lactose no hemisfério sul (de acordo com o estudo apresentado por um biólogo na FLUP, já há alguns anos)?

O seres humanos não moldam a sua natureza pela cultura!? Daí a agilidade ter sido uma caraterística comum entre caçadores-recolectores e ainda o ser entre povos tribais ou q vivam na/da floresta, e não o ser tanto nas sociedades modernas…
Não obstante determinadas limitações do código genético de cada um(independentemente do género), desenvolvemos as caraterísticas físicas que em sociedade, ao longo da história, se vai proporcionando que desenvolvamos.
Por essa lógica do determinismo hormonal, o que acontece a uma pessoa trangénero? Muda também de capacidades quando deixa de ser, por expl, homem e passa a ser mulher?!
Recomendo, a propósito https://cientistasfeministas.wordpress.com

Referes mais o sexo sociopsicológico. Eu refiro-me mais ao sexo genético.

A configuração hormonal diferente condiciona efeitos sexuais secundários, por exemplo, a produção de leite nas mulheres e a forma como se manifesta a calvície nos homens. Social onde?

A diversidade genética contribui para a evolução das espécies e a reprodução sexuada é um dos atributos primordiais dos seres vivos. Cada sexo tem um papel diferente e isso é bom para a sobrevivência da espécie!

Em trabalhos académicos que li sobre a intolerância à lactose, a doença está dividida em 3 tipos; a congénita ou genética (de nascença e muito rara); a secundária (quando a deficiência é adquirida em adulto após lesões intestinais, atinge 50-50 homens e mulheres); e a transitória (resulta de uma lesão intestinal que se cura fazendo desaparecer a doença).

Atualmente a intolerância à lactose é uma doença que afeta cerca de 50% da população mundial.

Parece-me que estes estudos (mais do que um) apresentam resultados que indicam uma distribuição mais equitativa dessa doença. Se existem mais pessoas no hemisfério sul o desequilibro não deve ser significativo.

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Eu falo de género, que é a temática estudada por várias ciências sociais. Nunca utilizaria essa designação que usaste.
A intolerância à lactose do leite de vaca deveria ser partilhada por toda a população, dado que não somos bezerros. Só não o é, porque culturalmente alguns povos se decidiram apropriar do leite de outros mamíferos. Logo, nessas regiões desenvolveu-se menor intolerância.
O que é há de social na amamentação? No mero facto de ser o corpo das mulheres que o permite, nada. Nas formas como é feita e considerada, condicionada a determinados contextos, tida em conta por empregadores: tudo.

Compreendo.
O que quero dizer é que os aspetos genéticos são incontornáveis.

Uma pessoa pode ser do género feminino e ter o sexo masculino é certo. Pode até mudar de sexo, mas isso não é natural, será sempre medicamente assistido. Também não poderá ter filhos e não gerará leite materno. Portanto nunca terá todas as funções do sexo feminino, será mulher conceptualmente (no género).
Por outro lado, em determinado período havia sociedades que consideravam que as mulheres tinham menor capacidade intelectual e com base nesse preconceito distinguiam o seu papel social. Mas a natureza não nos produziu diferentes a esse nível.

O aspeto genético acaba sempre por se sobrepor, a sobrevivência da espécie assim o determina. Podemos construir os conceitos que quisermos mas nunca poderemos negar ou minimizar o impacto da nossa própria natureza.

No caso da utilização da bicicleta diariamente em tráfego intenso, penso que a avaliação do risco está mais relacionada com questões genéticas do que de género. Mas não tenho dados científicos, é apenas a minha percepção.

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O que somos enquanto seres humanos não são apenas conceitos que se escrevem são sentimentos que se vivem.
Genética e cultura interinfluenciam-se, não é sempre a primeira que se sobrepõe, como por exemplo no que respeita à intolerância à lactose que seria “natural” e o deixou de ser nos países do hemisfério norte; à redução do tamanho dos pés pelas mulheres chinesas, às mulheres pescoço de girafa na Tailândia, entre outros exemplos.
Também nunca faria essa experiência,mas deduzo que o risco de uma mulher pegar numa bicicleta e sair sozinha para as ruas de Riade seja bastante grande!!

As imposições sociais podem parecer-nos pouco salientes, mas existem e condicionam significativamente as nossas acções. Nós tendemos a agir de forma coerente com aquilo em que acreditamos, e há inúmeras experiências científicas em psicologia em que formas subtis de priming psicológico resultam em diferenças de performance, desde habilidade matemática à velocidade da passada.

Eu desconfio que a tese da maior aversão ao risco por parte das mulheres como justificação para a menor proporção de mulheres a andar de bicicleta é uma falácia. Acho que tem mais a ver com as diferenças de carga horária de trabalho e natureza das tarefas que as mulheres têm a cargo face aos homens, entre outros factores (como a diferença na forma como o exercício físico e o esforço físico são encarados e enquadrados por homens e mulheres).

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Não me querendo intrometer, não é totalmente verdade. Os povos sino-tebetanos (por exemplo chineses) têm muito mais intolerância à lactose que os indoeuropeus, e mesmos nestes, a intolerância é menor nos povos nórdicos.

E a razão é que os indoeuropeus algures no tempo desenvolveram mutações genéticas que os tornou, em parte, resistentes à lactose, pois em períodos de grande carência, sobreviveram aqueles que conseguiram tirar proveito do leite, em vez de matarem logo a vaca.

Em relação à diferença dos sexos, entre homem e mulher, já escrevi sobre isso:

Mas resumidamente há duas componentes, a humana e a biológica. Na humana somos todos seres humanos e existe género, não sexo, e podemos ter homens com género feminino ou vice-versa, visto que a psique humana é muito complexa. Na vertente biológica existe sexo, e tal é na maioria dos casos claro e imutável pois está relacionado com a genética e com os cromossomas. Foi o sexo, que permitiu início do paleozóico aumentar a variabilidade genética devido à seleção natural e que fez explodir a biodiversidade.

E claro que há características sexuais secundárias que promovem o dimorfismo sexual, recomendo a leitura:

E não há nenhuma razão para pensar que o Homo Sapiens não tenha dimorfismo sexual. Dito isto, somos todos pessoas, seres humanos, e é isso que nos une na civilização.

Em suma, todos diferentes, todos iguais.

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Nature and nurture

Uns tendem a valorar mais um ponto, outros outro ponto, mas ambos tomam um papel relevante. Obviamente que numa sociedade onde as mulheres culturalmente são inferiorizadas, como por exemplo as teocracias islâmicas, a cultura molda o cérebro através da denominada plasticidade neuronal.

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