Pedalar por uma cidade mais feliz

‘Pedalar por uma cidade mais feliz’:
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O livro referido no artigo:

http://islandpress.org/cities-people

Tenho-o em casa e parece extremamente interessante mas ainda não tive
tempo para o ler. :frowning:

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só um detalhe, as pessoas é que ficam felizes, não as cidades.
As coisas inanimadas não são felizes, só as pessoas :slight_smile:

O título da notícia é uma figura de estilo (metonímia).

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Eu percebi :slight_smile:

é como aqui

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Podemos sempre discutir se a cidade se cinge ao conjunto de prédios e ruas e outras infra-estruturas. Eu acho que uma cidade é também composta pela sua fauna e flora, e estes podem ser mais ou menos felizes, fazendo a cidade também mais ou menos feliz.

abraços

RF

As Cidades são as pessoas :wink:

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Foram os Gregos e os Romanos que criaram o conceito de cidade que hoje temos.

Na Grécia clássica, pólis significava cidade, termo que deu origem em português a palavras como políticos (habitantes da pólis ou cidadãos), política (relativo à cidade), cosmopolita (ordem da cidade) ou ainda metropolitano (relativo à medida da cidade).

Os Romanos por outro lado, tiveram também um papel muito importante na administração das cidades, sendo que a própria palavra cidade provém do Latim (civitas), dando origem a palavras como civilização ou civismo. Outra palavra latina, urbanus, fazia referência às matérias pertencentes à cidade, e além de dar origem à palavra urbano, deu interessantemente também origem, à palavra urbanidade, que em oposição à ruralidade, com o desenvolvimento da língua, foi associada também ao conceito das boas regras de educação e de conduta cívica; aliás como a própria palavra civismo.

A cidade teve então um papel extremamente importante no desenvolvimento das civilizações. Antes dos Romanos ou dos Gregos, os homens já eram sedentários, fenómeno que apareceu após a revolução do Neolítico, há cerca de 10 mil anos, e já haviam também civilizações complexas, como no Egito ou na Mesopotâmia; mas foram os clássicos (Gregos e Romanos) que incutiram à cidade os conceitos de ordem, política e civilização.

A cidade, no seu espaço público, era o local de aglomeração das gentes, da confraternização, do comércio, dos animais domésticos, dos velhos, das crianças e de todos os que a visitavam. O espaço público era destinado a todas as pessoas, e foi assim desde a Antiguidade. Locais de referência eram o Fórum Romano e a Ágora Grega, onde os cidadãos se encontravam para debater as matérias da cidade. E acima de tudo, uma grande parte do espaço não era destinado ao movimento, ao fluxo dos transeuntes, era simplesmente de estadia, como as praças, os pátios, as travessas ou os becos. E mesmo nas vias destinadas ao movimento, uma grande parcela de área era destinada à estadia, como hoje é comum observarmos em algumas pequenas aldeias, ao vermos pessoas calmamente sentadas em bancos numa qualquer rua.

Chegados ao final do século XX, num passo de 2000 anos, a cidade sofreu uma transformação radical, na forma de tratar o cidadão. E foi algo que apesar de ter sido gradual, deu-se apenas num século, o século do automóvel, o século XX.

O processo envolveu várias frentes:

  • os espaços de estadia, foram sendo convertidos em espaços de movimento; o pátio antigo ligava-se a um beco, que por sua vez se ligava a uma rua maior, alargava-se a rua, e criava-se uma avenida,

  • as vias foram expulsando os peões para as suas laterais, criando-se então um conceito totalmente novo; o passeio. O passeio permitiu que as novas máquinas pudessem circular sem obstáculos, enquanto os peões circulavam nas vias pedonais laterais. Foi então necessário criar passadeiras, canais de atravessamento entre os vários passeios,

  • surgem as grandes avenidas (av. da República em Lisboa por exemplo), que ao terem alocado a grande maioria do seu espaço longitudinal ao automóvel, permitiam assim, um maior fluxo de tráfego motorizado, evitando então na altura, um fenómeno que mais tarde viria a ser comum, os congestionamentos,

  • as praças, outrora locais de encontro, de comércio ou de mercados locais, são convertidas em rotundas, cruzamentos ou parques de estacionamento,

  • sendo o espaço público desagradável e inseguro, e considerando que as velocidades médias dos veículos subia com o desenvolvimento da tecnologia, o número de atropelamentos subia a cada ano exponencialmente. Surgem então os diversos código das estrada, com regras punitivas para os peões incumpridores por forma a salvaguardar a sua segurança. Peão era um termo militar, quase pejorativo, para o plebeu que andava na guerra a pé, em contraste com o nobre que andava a cavalo, o veículo de então, termo ainda hoje usado no Xadrez,

  • criam-se os parques infantis, depósito seguro para crianças irrequietas numa cidade periogosa,

  • com o aumento das velocidades dos veículos a motor, surge primeiro o polícia sinaleiro, e posteriormente a semaforização,

  • com a obesidade crescente, devido à falta de qualidade do espaço público para modos ativos, surgem como cogumelos os ginásios, para resolver os problemas crescentes de saúde da população.

A cidade, como local de civismo, urbanidade ou ordem, no final do séc. XX, descaracterizou-se por completo, e perdeu totalmente o seu propósito, o de servir e de existir para as pessoas. A cidade converteu-se diria, quase numa fábrica de máquinas em movimento, com o vão propósito da mobilidade, sendo que todavia na realidade o automóvel piorou a mobilidade dos cidadãos, com o espalhamento urbano e o tempo de trabalho necessário para saciá-lo.

Quero uma cidade mais feliz? Claro que sim! Mas só expulsando o automóvel da cidade, e devolvendo-a novamente às pessoas, é que consigo conceber uma cidade feliz.

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As primeiras cidades são mais antigas. Babilónia e Síria.

Claro, mas os conceitos de cidadania e democracia, ou a participação de todos nos destinos da cidade, só surgem com os Clássicos.