Bom dia!
Sou novo no fórum e fiquei curioso ao ver uma conversa sobre Setúbal, terra de nascença e de morada.
Falando de “ciclocoisas em Setúbal”, proponho alargar o seu sentido e incluo outros aspectos associados à ideia de Setúbal como cidade ciclável.
Nos últimos 5 anos tem havido mudanças significativas na cidade (desde já lamento qualquer termo mais técnico que não for bem aplicado):
- começou pela pintura de faixas reservadas a velocipedes, algumas delas muito estreitas, e populadas de carros estacionados ou de automóveis que, não tendo mais espaço para circulação, ou ainda com pouca sensibilidade para partilhar espaço com outros utilizadores, não tinham outra opção que ocupar a porção que lhe fora retirada.
http://www.mun-setubal.pt/pt/noticia/faixa-ciclavel-organiza-transito/1503
- Há cerca de 1 ano, assisti à apresentação pública do novo plano de “Plano Urbanístico” pelo executivo da CM Setúbal. Alguns pontos que, como cidadão e utilizador da via pública, me pareceram importantes:
Positivos
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o responsável pelo Plano justificou as muito contestadas (por ciclistas e automobilistas) faixas pintadas como passo-piloto para sensibilização dos munícipes da crescente partilha da estrada por vários agentes. Por outro lado, após a recente actualização do Código da Estrada, essas faixas estreita, disse, seriam um anacronismo já que a estrada era agora inclusiva e de todos.
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construção a curto prazo de vários troços de ciclo-vias, em particular nos principais eixos da cidade (falando no centro da cidade), aumentando a segurança de velocipedes e automobilistas
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sensibilização do executivo para uma adopção crescente e significativa (ainda que diminuta) pelos munícipes, de meios suaves de transporte.
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criação de percurso ciclavel e seguro desde o novo Alegro (antigo Jumbo) até o centro da cidade - embora ainda com algumas lacunas no percurso
Negativos:
Tive a oportunidade de colocar algumas questões que ficaram na sua maioria por responder.
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o executivo aparenta ter ainda uma ideia muito ingénua e rudimentar do que é uma rede ciclável numa cidade e da sua utilização para outros fins que não o simples lazer.
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fez comparações desproporcionais com exemplos de cidades com dimensões e população muito superiores (ex: Barcelona).
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quando falei sobre migração pendular (casa-trabalho/escola-casa) e na necessidade imperiosa de uma rede ampla de pontos de parqueamento (idealmente em U invertido), deram uma não-resposta falando em que Setúbal não tinha dimensões ou população para uma rede de bicicletas partilhadas (?!). Estamos de acordo mas não responde.
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sobre a ideia de ligação a Palmela, silêncio; compreende-se que parte significativa do percurso pertence à Estradas de Portugal e não à Câmara Municipal de Setúbal
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a rede de ciclovias (o plano que apresentaram) é uma autêntica manta de retalhos. As ciclovias são pedaços que começam e acabam sem uma lógica de conjunto. Apenas com o argumento de aumentar a segurança em troços de trânsito mais intenso.
1 ano depois, ja uma boa meia dúzia de avenidas principais foi reestruturada, com alargamento de passeios, construção de troços de ciclovias, alguma sinalização vertical, muito pouca horizontal.
É com alguma irritação misturada com humor que observo os prototipos de estacionamento (ainda muito poucos) dispersos pela cidade. São espirais ou sequencias de circunferências, os famosos parte-raios. Além de não garantirem segurança nem equilíbrio, é insólita conclusão de que são potencialmente destinados a 1% das bicicletas em circulação pela cidade (bicicletas de roda fina, travões que nao de disco). A irritação vem do facto de eu não conseguir estacionar a minha bicicleta em qualquer um destes pontos.
Observa-se cada vez mais passeios organizados, seja para o grande publico, seja para amadores aficionados. Vê-se cada vez mais familias sabadeiras ou domingueiras em ciclo-lazer.
Falta dar o salto para o uso utilitário, diário, da ciclovia e da estrada.
Falta uma noção de conjunto, de rede ao serviço de todos.
Olhando para as fotos, parece-me que a “ciclovia” delimitadas por postes de plástico é uma medida temporária porque ainda andam a reabilitar toda essa zona.
Foi um primeiro posto muito longo mas quis aproveitar a oportunidade para partilhar a descrição do estado de Setúbal como cidade ciclável e dos esforços (e também alguns erros) que têm vindo a ser feitos nos últimos anos.
Correndo o risco de ser despropositado, seria interessante saber de alguém interessado em constituir um ciclo-lobby em Setúbal. E até de haver um espaço dedicado, neste fórum ou no próprio site da MUBi, à descrição do estado ciclável das nossas cidades, vilas e aldeias. Fica a sugestão.
Bom fim de semana e obrigado por me lerem (é perseverança).