Se alguém quiser ver como se justificam investimentos (de 580 milhões de euros) em mais estradas, penso q está aqui - nos ficheiros, q depois da pressão do Rui Rio, o Governo disponibilizou.
O documento principal do PRR já tinha parágrafos em duplicado e triplicado a dizer praticamente a mesma coisa. Agora são 57 ficheiros.
Este da Componente 7 (Infraestruturas) tem 129 páginas:
E, começa assim (os bolds são todos do próprio documento):
O setor dos transportes é essencial ao desenvolvimento económico e coesão social, mas é um dos principais responsáveis pelo consumo de energia primária e uma das principais fontes de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), representando 24% do total das emissões nacionais em 2015.
Este desafio está patente no Pacto Ecológico Europeu, que define uma estratégia para tornar a economia da UE sustentável, e que assegure o crescimento económico dissociado da exploração de recursos. No plano de ação do Pacto Ecológico Europeu é definida, como medida para atingir os objetivos propostos, a implementação de formas de transporte público e privado mais limpas, mais baratas e mais saudáveis, isto é, a atuação no domínio da Mobilidade Sustentável.
e segue assim:
A estratégia política seguida para atingir estas metas [redução de emissões] assenta em três pilares: a promoção do transporte público (através medidas de redução de tarifas, de melhoria de frotas e de adequação de redes), a aposta na promoção da mobilidade ativa e a aposta transversal na introdução de veículos limpos.
Começa muito bem.
Mas depois passam para o discurso dos:
No entanto, […]
Por outro lado, […]
E seguem para:
A realidades territoriais de menor densidade e maior dispersão populacional, ajustam-se soluções distintas, maioritariamente dependentes da infraestrutura rodoviária. […] devendo a estratégia da descarbonização ser implementada através do fomento do uso de veículos limpos para o transporte público e privado e/ou encurtando os trajetos entre dois pontos, minimizando todos os impactes inerentes à deslocação entre eles.
A este propósito, verifica-se que a rede nacional complementar regista elevados níveis de congestionamento em alguns pontos (estrangulamentos) […] e ainda que subsistem trajetos relevantes que continuam a utilizar troços da rede nacional com travessias urbanas, o que penaliza a segurança rodoviária (p.e., o atual IC35 em Penafiel, no interior do país), a qualidade do ar e o ruído.
Assim, o que Portugal pretende é uma melhor gestão da sua rede, retirando veículos das zonas urbanas (com a materialização, por exemplo, do “IP2. Variante nascente de Évora”) ou encaminhando-os para corredores de elevada capacidade, onde as condições de segurança são melhores e causam menos impacte no meio ambiente e aos utilizadores mais vulneráveis.
[…] Importa referir que, mesmo as intervenções identificadas como de “construção” não se destinam à expansão da Rede Rodoviária Nacional, mas antes à substituição de troços de vias com piores condições de circulação e de segurança, e que por vezes atravessam zonas urbanas, como já mencionado, por vias mais modernas e com traçados que permitem uniformizar a velocidade de circulação, permitindo a manutenção de uma condução de velocidade mais constante, ou seja, vias mais “amigas do ambiente”.
E depois, justificam cada um dos projectos. Ficam aqui um excerto de cada um do três primeiros projectos (aqui os bolds já são meus):
EN 14 Mais/Trofa:
A materialização desta Variante à EN14 permitirá o descongestionamento da atual EN14, permitindo que no futuro possam aqui ser implementadas soluções mais eficientes de transporte coletivo ou de mobilidade suave, em sintonia com o ambiente urbano que essa via atravessa.
EN4. Variante da Atalaia
Permite descongestionar a EN4 no atravessamento da área peri-urbana do Montijo e área urbana da Atalaia, permitindo melhorar as condições de circulação e de segurança nesses atravessamentos e incorporar no projeto infraestruturas para potenciar a mobilidade suave.
IC35. Rans / Entre-os Rios
O projeto permite descongestionar a EN106 no atravessamento de diversas povoações e permitindo melhorar as condições de circulação e de segurança nesses atravessamentos. Encontra-se prevista a implementação de percursos pedonais e ciclovias.