Satisfação com a Ferrovia na Europa

Desse ponto de vista, até consigo defender que o comunismo é uma solução de mercado. Apenas estou a ajustar a oferta a cada qual segundo as suas necessidades.

A função pública não busca o lucro, também? Ninguém trabalha de borla.

Não existem motivos para não se subsidiar um serviço, só porque ele é prestado por um privado. Contratualiza-se um nível de qualidade de serviço, um preço ao consumidor final. São serviços naturalmente deficitários, não podem viver somente das receitas vindas dos utentes. Lá fora o que não falta são serviços públicos concessionados a privados. E até cá em Portugal também temos, e a funcionarem bastante bem!

O comunismo (analisando apenas pela vertente económica) não passa de capitalismo de estado… nada funciona sem dinheiro. Nem nos EUA nem na ex-URSS. A diferença é que se calhar há coisas onde faz sentido garantir um grau de liberdade económica elevada, outros em que não. Uma coisa é estarmos a reduzir a quantidade de lugares de estacionamento disponíveis. Outra coisa seria por exemplo estarmos a limitar o número de operadores de telecomunicações no mercado e a entregar um monopólio ou quase-monopólio a um operador (que no caso seria público) e aí estás “amarrado” com tudo o que isso implica… pode calhar os gestores desse operador monopolista não valerem nada e prestarem um serviço fraco e caro e não tens opção, nem eles se vão embora porque não é permitida a concorrência. Quando permites concorrência, vingam os melhores (a não ser que o Estado tenha um “preferido” e o ande a subsidiar, distorcendo a concorrência… é um bocado como faz a TAP, que presta um serviço caro e ineficiente porque vive às custas do Estado. Não fosse assim, e já teria surgido um mais competente e eficiente para o substituir, como fez a Ryanair no Porto). Existe sempre alguém capaz de fazer melhor, o quando o mercado é livre, estás a permitir que essa pessoa possa acrescentar o seu valor.
As leis do mercado mas não são do que os comportamentos das pessoas… e os efeitos agregados que produzem. Se alteras uma variável vais produzir sempre um resultado qualquer.
Monopólios em geral são maus (o comunismo não passa de monopólios operadores pelo Estado), com excepção daquilo que em economia se chamam de monopólios naturais, que são coisas como por exemplo a distribuição de água ou electricidade, transportes públicos, etc… tu podes ter diferentes entidades a comercializar electricidade ou água, mas vais sempre ter uma só infraestrutura de canalizações ou de rede eléctrica e não uma por entidade… assim como não vês duas operadores diferentes de transportes públicos a explorarem exactamente o mesmo percurso. Isto seria uma duplicação de custos, com as respectivas ineficiências.
Por isso é que muitas vezes pode fazer sentido o Estado contratualizar o serviço a um privado. O Estado, como qualquer um de nós faz, deve ter a opção de ir ao mercado (onde estão presentes operadores privados e públicos) e escolher o mais capaz, o melhor, ou whatever, e fazê-lo permite colocar em contrato os objectivos com que o operador se compromete, em vez de simplesmente entregar o serviço a um operador qualquer (em geral público) e este gere como quer sem passar cartão. Lembro-me que até há bem pouco tempo a CP nem sequer tinha contrato de serviço público… e começaram a ser mais competitivos quando sentiram a pressão que a concorrência da ponte aérea Lisboa - Porto lhes trouxe. Isto demonstra como qualquer operador (fosse público, fosse privado) se começa a encostar à sombra da bananeira, para prejuízo de todos nós, quando se sente com as costas quentes. Deve uma separação do papel do Estado como prestador de um serviço, e do papel do Estado como cliente de um serviço, que são obviamente papéis diferentes. O Estado ser cliente de si próprio nem sempre produz bons resultados…

E não é a alimentação um bem muito mais essencial que a saúde? Vamos nacionalizar todas as merceearias, para que os pobres não passem fome? Ou damos RSI aos pobres para que estes possam comprar comida nas merceearias privadas? Mas espera, não estamos assim a alimentar o lucro dos merceeiros? Estou confuso!

@MarioJAlves @JoaoBernardino

devia ser bonito merceearias públicas :wink: : 35 horas de horário de trabalho, preços caríssimos, tinhas de comprar os produtos durante os dias de semana e entre as 9 e as 16, tirando hora de almoço, e se não pagasses pelo menos 1000 euros aos tipos que estavam na caixa em “empregos de serviço público altamente especializado”, faziam-te greves todos os dias, sempre, no interesse público e do povo, para que este não passe fome. E depois terias o @jmpa e o @ricferr a dizer que as mercearias não podiam ser privatizadas, porque os privados não iriam querer ter merceearias em bairros onde não dessem lucro. Também gostaria de ver como seria a retórica sindical para a progressão das carreiras do pessoal que trabalharia nas merceearias públicas, terias certamente, várias especialidades e categorias profissionais para justificar extras salarias e proressões: técnico superior de reposição de lacticínios, técnico especialista em peixaria, técnico auxiliar de ação talhante, etc.

Mas porque motivo gostas de pôr coisas na minha boca que eu não disse?

Curioso que fales na alimentação, para onde vai cerca de metade do orçamento comunitário através da PAC e que mesmo assim apresenta enormes problemas ambientais. Então o mercado não resolve tudo?

Nacionalizemos então também as empresas agro-alimentares! Nem a propósito vi isto hoje:

Mas ainda te guias pelo Milton Friedman?

Já estamos no século XXI. Há coisas mais recentes no Youtube:

Eu acho que esses subsídios funcionam acima de tudo como medidas proteccionistas… será que ajudam a tornar a alimentação mais barata? Ou estamos antes a apoiar os agricultores europeus e a prejudicar os países pobres que de outra forma nos venderiam a sua produção?

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É verdade, mas por outro lado os países pobres têm normas ambientais ainda piores que as europeias (adicionado ao facto do sector dos transportes não pagar as devidas externalidades) e também por isso conseguem praticar preços mais baixos.

E é uma forma de garantir alguma auto-suficiência, visto que podemos ficar dependentes de importações vindas de países liderados por ditadores que a qualquer momento nos podem cortar a fonte de alimento, por motivos de guerra ou outros.

A auto-suficiência é um mito económico do século XVIII. Não há nenhum país do mundo que seja auto-suficiente. Aceito todavia o argumento de dumping ambiental que provoca concorrência desleal.

É só um mito que contribuiu para que o país onde vives seja um paraíso ciclável.

The 1973 oil crisis – when Saudi Arabia and other Arab oil exporters imposed an embargo on the US, Britain, Canada, Japan and the Netherlands for supporting Israel in the Yom Kippur war – quadrupled the price of oil. During a television speech, prime minister Den Uyl urged Dutch citizens to adopt a new lifestyle and get serious about saving energy. The government proclaimed a series of car-free Sundays: intensely quiet weekend days when children played on deserted motorways and people were suddenly reminded of what life was like before the hegemony of the car.

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Foi uma opção dos holandeses fazer da Holanda um país ciclácel. A crise do petróleo foi apenas um pretexto ou uma oportunidade. A crise do petróleo não afetou apenas a Holanda, mas o mundo inteiro. E a Holanda está muito longe de ser auto-suficiente.

Falo em medidas sociais, sou logo comunista. Digo que é benéfico alguma auto-suficiência, assumes importações zero. O mundo não é a preto e branco.

Eu acho que em Portugal se confunde muito ainda medidas sociais ou serviços públicos com socialismo.

Quando me conseguirem convencer porque é que a CP presta serviço público e a Fertagus não, ou porque é que o Hospital de Braga sob o regime de PPP não prestava serviço público e agora já presta, tirarei o meu chapéu.

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Na verdade queria dizer medidas socialistas, por oposição a soluções mais liberais. E nem sequer estava a defendê-las, mas apenas a falar nelas para o @Aonio_Lourenco ter oposição.

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Não há explicação, os alemães têm uma expressão para isso: Zeitgeist! É o espírito da época vigente no país. Os indianos chamam-lhe mantra, de tantas vezes repetir que passa a ser verdade.

A explicação está na assimetria de informação dos utentes em relação às empresas privadas nos setores da saúde e da educação. Nunca leram o Economia com Todos ou A Economia como Desporto de Combate?

Assimetria de informação relativamente ao quê?

Relativamente a assuntos de saúde ou de educação. A empresa tem muito mais informação e conhecimento sobre essas matérias do que o cliente.

O exemplo que mostrei acima sobre a diferenças entre escolas públicas e privadas. Nas escolas privadas, os pais pagam a pensar que os seus filhos terão uma melhor educação. Do ponto de vista da escola privada isso mede-se em boas notas e bons resultados nos exames nacionais. E é isso que as escolas privadas dão, nem que para isso tenham de inflacionar as notas e orientar toda a educação dos alunos para os resultados dos exames, prejudicando todas as outras vertentes.

Na saúde por exemplo, vê por exemplo esta diferença na taxa de cesarianas. As pessoas pagam a pensar que vão ter um melhor serviço, mas na verdade os hospitais privados descuram boas recomendações por terem medo de perder o cliente para outro hospital.

A empresa tem sempre muito mais informação e conhecimento, seja ela pública ou privada.

Esse problema das notas, e das taxas de cesariana (que já são problemas bem conhecidos) acho que podem querer dizer que o modelo de avaliação ou de acesso ao ensino superior está errado, assim como o de financiamento aos serviços.

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