Transportes, os dados que os economistas não publicam

https://www.veraveritas.eu/2018/06/transportes-os-dados-que-os-economistas.html

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Existe uma falácia permanente em todas as análises que envolvem petróleo. Nós não importamos combustíveis, importamos matéria prima para produzir combustíveis o que é algo diferente. As refinarias são indústrias transformadoras que adicionam um valor acrescentado ao produto final tal como a indústria textil que importa algodão ou a indústria do açúcar que importa ramas. Se formos por essa via destruiremos toda a indústria transformadora como base no pressuposto de que não podemos importar nada.

E a ocupação de espaço público. Não pode ser considerada uma externalidade negativa?

Mas já viste o nível brutal de importação de combustíveis na Balança Comercial? E a poluição gerada por queimar esse gases com efeitos de estufa, geradores de alterações climáticas e de inúmeras doenças?

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De acordo com quem percebe do assunto, não. O espaço ocupado não é considerado externalidade pois não cria custos a terceiros. Refiro-me a espaço para estacionamento e não congestionamento. O congestionamento tem externalidades.

Tens aqui a lista de externalidades negativas:

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Penso que a ocupação de espaço se insere no Cost for Nature and Landscape, que não está contabilizada nas fontes do teu texto.

E ainda falta a perda directa de vida selvagem por atropelamento. Cada vez que morre um lince ibérico na estrada, lá se vai uma batelada de dinheiro dos cofres do Estado.

Não :slight_smile:

Estacionamento na cidade não inclui “natureza e paisagem” :slight_smile:

Mas podes ler a fonte do “handbook” da TU Delft, eles detalham lá a que se referem

Mas isso é se assumirem que todo o espaço ocupado pelos automóveis seria na mesma acimentado, certo?

A primeira vez que ouvi falar neste assunto foi na faculdade de economia… portanto acho que eles não andam assim tanto a dormir e sabem onde as externalidades estão. Simplesmente existem interesses… é tão simples quanto isso. Maior parte dos economistas portugueses, como qualquer bom português, anda de carro para todo o lado… logo gosto muito que o seu transporte particular seja subsidiado.

Quanto à se ocupação de espaço é ou não externalidade… tanto o Aónio, como o João têm razão. Externalidade é em grande medida um conceito um pouco subjectivo, e a grandeza da externalidade deverá variar consoante o que se considera. Mais, as externalidades nunca são calculadas com precisão, são estimativas. É como o pib. E como qualquer estimativa, ela responde a uma série de pressupostos…
Ou seja, à partida, incluir custos do estacionamento incorpora maior rigor na análise, mas como já se começa a entrar num campo onde a quantificação é mais difícil, não é grave que seja ignorado… além de provavelmente estar longe de ser a rubrica que mais pesa.
Tudo o que tem um impacto directo nas contas do Estado é evidentemente uma externalidade, mas não tem que ter esse impacto para que assim seja. Externalidade é qualquer impacto que tenha sobre terceiros.
Um bom exemplo de como a quantificação de coisas em economia não é linear, é o conceito de custos. E os custos podem ser calculados sobre a óptica financeira, contabilística ou económica! Sendo que muito raramente algum destes 3 valores se iguala.
Um lugar de estacionamento na via pública, à primeira vista não teve nenhum custo contabilístico nem financeiro, mas tem muitos custos económicos! Isto porque a câmara, ou o Estado, abdicou de algo (eventualmente mais produtivo, seja em termos de - e aqui cá está mais uma subjectividade - euros, ou de bem-estar) para ter antes ali um lugar de estacionamento.

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Novamente, não se importam combustíveis, excluindo algumas trocas com Espanha, eles são produzidos cá, e nem todo o petróleo importado se converte em combustíveis, tens como exemplo as massas asfálticas para pavimentos incluindo ciclovias.
Claro que o caso do carvão para a central de Sines é uma situação à parte.

Depois tens de excluir a componente destinada à indústria e produção de energia, (sim, existe muita co-geração), produção agrícola. utilização doméstica em caldeiras, por exemplo.

Finalmente os 36% das importações de petroleo usadas pelos transportes implicam um custo -benefício. Acho que tens uma noção clara de que se suprimires os combustíveis do modelo económico actual ficas literalmente sem economia e portanto possibilidade de sobrevivência da maioria da população fica comprometida. Claro que existe desperdício, mas se os TPs já andam sobrelotados…

Presumo que está relacionado com o facto de que nas cidades, não há paisagem nem natureza, e a maioria do estacionamento é nas zonas urbanas.

De facto o Handbook não considera o espaço como uma externalidade.

Está relacionado, julgo, com a própria definição de externalidade. Quando estacionas o carro ocupando espaço não geras custos a terceiros. Quando se constrói uma autoestrada pelo meio da floresta, geras um custo. Como se mensura esse custo, como bem refere o @ZeM é muito subjetivo, apesar de haver métodos de cálculo objetivos. Por exemplo para a sinistralidade rodoviária, são considerados os valores dos prémios dos seguros de vida, que têm em conta quanto a pessoa, numa certa idade, devolveria à economia com trabalho e produtividade. No caso da natureza, não sei o método, mas eles no Handbook da TUDelft explicam a metodologia.

PS: julgo que em Lisboa, de facto, o estacionamento deveria ser externalidade negativa, porque o custo que tem o estacionamento em Lisboa (12€/ano para residentes) é ridiculamente baixo que vai de certeza ser imputado aos outros. Julgo que foi considerado um caso “normal”.

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Segundo eu percebi, isto foi o “início” da A5 desbastando Monsanto

Como se mensura estes custo? De facto, subjetivo!

Não distingue entre meio urbano ou rural:

“Costs for nature and landscape
Roads, parking spaces but also suburban sprawl caused by cars need significant amount of space. Typically, once agricultural or uncultivated land is turned over into ever wider motorways and ever larger parking lots to accommodate the automobile but induced demand means any relief is temporary and more and more surfaces are sealed in the process.”

Em total desacordo com isto:

Não só há natureza, como há fonte de alimento:

Não vale a pena inventarmos! Vamos diretamente à fonte! Também para o @MarioJAlves, mesmo sabendo que ele não participa no café :slight_smile:

Do Handbook da TU Delft, página 88, de onde se retira a fonte para os custos de paisagem e natureza:

Costs for nature and landscape

Three types of negative impacts are relevant (OSD, 2003): Habitat loss, habitat fragmentation and habitat quality loss. The estimation procedures are:

− Repair cost approach for ground sealing and other impacts on ecosystems (disturbance of animals and their biotopes by noise or barrier effects, visual disturbance, etc.) (INFRAS/IWW, 2000/2004).

− Standard price approach for quantifying the negative effects of airborne emissions on ecosystems and biodiversity (through acidification and eutrophication) (ExternE, 1999; NewExt, 2004).

− Two-stage approach for quantifying biodiversity losses: a. repair costs for reduced species diversity due to land use change and b. repair costs for negative effects of airborne emissions on ecosystems and biodiversity (through acidification and eutrophication) (NEEDS, 2005a).

− Two-stage approach for habitat loss and fragmentation: a) compensation costs for habitat loss due to transport Infrastructure (creating compensatory ecosystem) and b) compensation cost approach for habitat fragmentation
(OSD, 2003).

The repair costs proposed (in INFRAS/IWW, 2004a) vary between 10 and € 40 per m2. The costs for nature and landscape due to airborne pollutants (e.g. through acidification and eutrophication) do not belong to the cost category ‘nature and landscape’ but are covered within the cost category ‘air pollution’.

Ou seja, em nenhum dos casos, se considera estacionamento. Mas fala com o @JoaoBernardino da core, foi ele que me explicou em tempos porque motivo o estacionamento nas cidades não é uma externalidade. Em qualquer caso, eu pessoalmente continuo a considerar uma externalidade, caso o preço do espaço em estacionamento não reflita o valor de mercado por m^2.

A sério @jmpa, quando tiveres um tempinho, dá uma vista de olhos:

Uma leitura rápida e geral

Já vi em tempos umas partes do manual por alto, mas quando tiver tempo leio com mais atenção.

“land use change” penso que pode perfeitamente incluir não só estacionamento, mas também as estradas.

E há ainda a lembrar que as cidades são os locais onde se situam os solos mais férteis e por esse mesmo motivo foram aí que se fixaram as populações.

Parece-me que o que deveria contar é o espaço ocupado pelo automóvel.

Em média: 0.96 (percentagem do tempo parado) x 14-37 m2 + 0.04 x 139 m2 (assumindo uma velocidade média de 50 km/h)

como é que chegaste a esta conta?

É só uma sugestão simplista para um possível cálculo do espaço ocupado.

Um carro passa em média 96% do parado, um lugar de estacionamento ocupa em média entre 14 a 37 m2. Os restantes 4% do tempo, ocupa 139 m2 em movimento (assumindo uma velocidade média de 50 km/h).

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Uma sugestão, dados que só ocupas a tua cama durante 33% do tempo, poderias rentabilizar o espaço alugando-o por exemplo durante o tempo restante!

É por isso que estou registado no CouchSurfing. Podes ficar cá em casa, quando vieres fazer uma visita.

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