A carro-dependência tem cura. Consulte os nossos especialistas

A junção entre Freud e os itens da sociedade de consumo lembra-me estes textos:

##Tabaco

##Automóvel

Interesso-me muito por esta temática desde há tempos. Recomendo mais este vídeo:

A MUBi é uma associação política. Por isso o nosso marketing tem que ser necessariamente político.

O que estava a questionar é se os princípios políticos devem ser influenciados por marketing… é esse um dos temas do “Century of the Self” (acho que começa este tema na 4º e última parte publicada pelo Miguel) e é esse um dos perigos em misturar as duas esferas. Sim, existe uma clara tendência para o activismo ter um discurso político muito influenciado pelo (ou mesmo baseado no) marketing e info-entretenimento.

Sim, o Huxley tb é um dos meus visionários preferidos e tb concordo que foi ele que consegui ver melhor os perigos e pesadelos do futuro que se abre à nossa frente em todo o seu esplendor.

Se gostas do Huxley aconselho-te o livro Amusing Ourselves to Death do Neil Postman (Postman, Neil (1985). Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business. USA: Penguin. ISBN 0-670-80454-1). O livro é pequeno clássico baseado numa palestra do Neil Postman. Mando-te a introdução ao livro que está disponível na net de graça. O livro é uma leitura critica do mundo do infotainment (info-entretenimento?) e garante que o futuro que se cumpriu foi mais o do Huxley que o do Orwell. Não esquecer que o contexto histórico em que foi escrito coincidiu exactamente com a perestroika (o fim do modelo Orwelliano do Leste). Durante estas últimas décadas restou o modelo Orwelliano Chinês e ao reler recentemente o Amusing Ourselves to Death pensei que até na China o modelo do Orwell está a ser substituído pelo Huxley - Tentaram e conseguiram.

Eu revisitei estas ideias do Postman num artigo que escrevi sobre o futuro da mobilidade - nele sugiro a possibilidade de três futuros: Regional Warlordism, Tecnological Networks of Control, Sustainable Localism. Sendo que, o mais provável e prevalecente, venha a ser o do modelo do meio com um sabor Orwelliano mas profundamente Huxelyiano. Mas tb aviso que haverá justaposição de modelos. Como diz o William Gibson: “The Future Has Arrived — It’s Just Not Evenly Distributed Yet”

Aliás a vontade de alguns activistas declarar que o espírito combatente e confrontacional da Massa Critica está morto e explicar-nos paternalisticamente que o futuro do activismo é necessariamente a benigna e contemporizadora marca registada Cycle Chic (ler as razões com que alguns activistas explicaram o terem terminado com a “Massa Critica” de Budapeste), lembra-nos que no activismo haverá sempre diferentes correntes e uma delas é ser uma espécie de espelho do Poder - e que estas tensões sempre existiram e existirão (felizmente).

Foreword from
Amusing Ourselves to Death
by Neil Postman

We were keeping our eye on 1984. When the year came and the prophecy didn’t, thoughtful Americans sang softly in praise of themselves. The roots of liberal democracy had held. Wherever else the terror had happened, we, at least, had not been visited by Orwellian nightmares.

But we had forgotten that alongside Orwell’s dark vision, there was another - slightly older, slightly less well known, equally chilling: Aldous Huxley’s Brave New World. Contrary to common belief even among the educated, Huxley and Orwell did not prophesy the same thing. Orwell warns that we will be overcome by an externally imposed oppression. But in Huxley’s vision, no Big Brother is required to deprive people of their autonomy, maturity and history. As he saw it, people will come to love their oppression, to adore the technologies that undo their capacities to think.

What Orwell feared were those who would ban books. What Huxley feared was that there would be no reason to ban a book, for there would be no one who wanted to read one. Orwell feared those who would deprive us of information. Huxley feared those who would give us so much that we would be reduced to passivity and egoism. Orwell feared that the truth would be concealed from us. Huxley feared the truth would be drowned in a sea of irrelevance. Orwell feared we would become a captive culture. Huxley feared we would become a trivial culture, preoccupied with some equivalent of the feelies, the orgy porgy, and the centrifugal bumblepuppy. As Huxley remarked in Brave New World Revisited, the civil libertarians and rationalists who are ever on the alert to oppose tyranny “failed to take into account man’s almost infinite appetite for distractions”. In 1984, Huxley added, people are controlled by inflicting pain. In Brave New World, they are controlled by inflicting pleasure. In short, Orwell feared that what we hate will ruin us. Huxley feared that what we love will ruin us.

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Excelente cartoon Mario, fiquei muito curioso de ler esse livro…

outro “clássico”, embora numa vertente de teoria da conspiração, é este: http://disinfo.com/2013/10/conspiracy-classic-silent-weapons-quiet-wars/

Mas caímos realmente num “loop” muito complexo… todas as “forças” opostas, trabalham com estas ferramentas, e a questão que se coloca é, quais as ferramentas para conseguirmos chegar às pessoas?

Esta questão tem-me assolado há muitos anos. Ainda no outro dia, na reunião que o José Carlos Mota organizou de rescaldo da Velo-City de Nantes lancei essa questão num comentário (mas creio que não terão dado por ela).

3ª feira, em Aveiro vou mais uma vez tentar que este tema entra na agenda: como gerar mudança? como chegar às pessoas, tanto ao público em geral, como aos decisores e outros stakeholders? Porque podemos ter planos fantásticos, podemos ter um manancial de conhecimento absurdo de como transformar o país, mas como o cartoon tão bem ilustra, mesmo que não nos sensurem, a grande maioria das pessoas não estará minimamente receptiva a essas ideias - aliás, nem dão por elas.

Tantas vezes fico com a sensação que depois de falar com determinadas audiências, a reacção delas é esta (ver minuto 2:15):

(gostaram da referência ser um filme de… carros? :stuck_out_tongue: )

Obrigado pela reflexão Miguel.

De facto nada tenho contra o marketing e, como disse, a MUBi e outras associações com fins políticos podem usar marketing (desde que esteja de parâmetros éticos decentes) para que a sua mensagem chegue às pessoas.

O que eu estava a alertar era precisamente para o contrario: o marketing passar a ser a base do discurso, a sua maior preocupação, e necessariamente afectar os princípios políticos.

Sobre a forma de como chegar às pessoas ninguém sabe muito bem como alterar as mentes e os comportamentos. Paradigmas de comportamento e visões do mundo, ao fim de umas décadas, criam “autoestradas” rápidas e intuitivas de sinapses cerebrais e tornam outras opções gradualmente “caminhos de cabras” lentos, desconfortáveis e até desligados.

Falei disso aqui:

@MarioJAlves, nessa dicotomia dos medos socialistas/capitalistas esqueces-te de um dos maiores pilares da Humanidade: o livre arbítreo.

Nos receios de Orwell, a informação simplesmente não chegava e a dor era imposta; nos receios de Huxley, o indivíduo tem o livre-arbítreo para fazer a sua escolha de procurar o prazer e o entretenimento (eu por exemplo há 3 anos que não tenho TV em casa). Há teorias neuronais determinísticas que dizem que não passamos de computadores biológicos, que com deteminados inputs, reagimos com determiados outputs. Se até pode ser verdade para as massas, não creio que será verdade para o indivíduo provido de Razão.

Na sociedade de Orwell, a MUBi não existiria pois é anti-sistema, na sociedade de Huxley, a MUBi é ostracizada e minorada, mas existe, e os seus membros podem debater livre, racional e publicamente o que bem entenderem, sem se preocuparem minimamente com a vertente de marketing da organização.

O que tu implicitamente aparentas defender para a MUBi, que não deve relevar assim tanto a sua vertente de marketing e preocupar-se essencialmente com a vertente racional, e de conteúdo científico das suas ações e comunicações, e acima de tudo, separando estes dois domínios, é uma consequência de vivermos numa sociedade onde os receios de Orwell não se cumpriram.

Longe de mim achar que o futuro é desgraçado e que mudança é impossível. Aliás sou activista precisamente porque acredito que o “mundo gira” e o que achamos impossível hoje amanhã é uma realidade.

Aliás ia sugerir ao Miguel que apesar de que para conseguir mudanças sociais significativas parece ser necessário uma massa critica suficiente, para accionar a mudança ela geralmente teve origem sempre num grupo minoritário.

“Never doubt that a small group of thoughtful, committed, citizens can change the world. Indeed, it is the only thing that ever has.”
― Margaret Mead

Tb não. Participei sempre muito activamente em projectos da MUBi cujo objectivo principal era um simpático marketing promocional de uma ideia política (como por exemplo o Sexta de Bicicleta), ou fazer o esforço de ir a um programa de entretimento com o qual não me reconheço. O que estava a alertar é que, lá por algumas ideias e princípios políticos serem difíceis ou desconfortáveis agora para alguns, não quer dizer os evitemos ou esquivemos deles por questões de marketing.

A questão que levantas é muito pertinente, @MarioJAlves e concordo contigo. Os nossos valores (nossos da MUBi) devem prevalecer sempre, mesmo quando em termos de marketing político possam ser um desastre. Repara no que aconteceu com o artigo sobre os seguros:

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4050314

Foi um desastre em termos de comunicação política. Mas os nossos valores prevaleceram.

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Haha bom exemplo.

E eu que o diga que o meu telemóvel esteve no epicentro durante uma semana - creio mesmo que nessa semana dorminhoca de verão eu fui o homem mais insultado de Portugal. Na altura, e há distancia não me perturbou por aí além - de facto, até pode ter ajudado a colocar o tema na agenda (primeiro estranha-se e depois entranha-se), e momentaneamente ter colocado o Barbosa à defesa (o seguro não é só absurdo como ainda têm que ser os automobilistas a pagar! Momentaneamente a discussão passou para outro nível :smile: ).

Mas sim, como já conversamos foi um misto de incompetência e ignorância da estagiária da Lusa que decidiu escrever uma peça tendenciosa e o meu erro de lhe tentar explicar o significado de um assunto complexo. Conclusão: Responsabilidade Objectiva não é assunto para peças jornalísticas. Mas é assunto importante para seminários, comunicados e conversas entre nós.

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Na altura concluímos que mal ou bem, o importante é que falem de nós… mas temos que subir de nível agora :slight_smile:

Ui, essa semana foi fogo… julgava eu que iria estar descansado de férias no Algarve - passei o tempo a tentar explicar a coisa também a outros jornalistas, a escrever comunicados de imprensa, etc.:stuck_out_tongue:

Mário, eu não tenho dúvida que a mundança parte de minorias. Agora a realidade é que há inúmeras minorias, e serão as mais determinadas e “eficazes” as que acabam por vencer. A história tantas vezes badalada do Edison e do Tesla é um exemplo disso.

E já que estamos numa de citações, fica aqui a do Bertrand Russell :stuck_out_tongue_winking_eye:

O problema do mundo é que os idiotas são cheios de certezas e os sábios cheios de dúvidas.

Já agora, coloquei esse cartoon num formato mais “FB screen friendly”: https://www.facebook.com/miguelbarroso/media_set?set=a.10203903725463622.1073741831.1535984366&type=3

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Excelente «Cartoon». :slight_smile:

Acerca um pouco desta conversa que se está a ter, acerca de “como mudar
mentalidades”, conto uma pequena história, que me fez vir uma pequena
"(talvez absurda e difícil de implementar) ideia.

Ontem vinha na estrada de Benfica, em direcção ao Arraial que lá
havia. Normalmente quando vou sozinho, vou sempre ali a “abrir”, se
passa um carro/táxi vejo o tipo de pessoa que vai ao volante pelo
comportamento e decido se devo fugir, impor-me ou facilitar. Sou mesmo o
melhor amigo do taxista. :stuck_out_tongue: Até os mando passar, chegando-me para a
direita, se eles se aproximarem de mim civilizadamente. Mas acompanhado
por uma amiga, como ia ontem, ia muito mais devagar. Ela ia a cerca de
30 metros atrás de mim, e eu a controlar-la pelo espelho. Veio um táxi e
pôs-se a ultrapassar-nos a nós os dois. Entretanto, vinha outro táxi na
direcção contrária. O táxi que vinha a ultrapassar, já tinha
ultrapassado a minha amiga, faltava eu. :stuck_out_tongue: Ora, eu previ o que se ia
passar e encostei-me logo à direita. O táxi que vinha na faixa dele
começou a apitar para o outro que ia a ultrapassar-nos, em direcção a
uma colisão frontal. O táxi que ia a ultrapassar-nos “mandou-se” logo
para cima de mim, para evitar bater. Eu como já tinha previsto o que ia
acontecer, ia encostado à direita e por isso ele não me tocou. Os
espelhos da bicicleta, salvaram-me ontem. Foi graças a eles que previ a
estupidez que o taxista ia fazer. :stuck_out_tongue:

Adiciono apenas que originalmente, tanto eu como a minha amiga,
íamos no meio da faixa. O táxi que nos ia a ultrapassar, também
respeitou os 1.5m de distância (passou totalmente para a faixa
contrária, que eu vi pelo espelho). Calculou foi mal o sitio e distância
de ultrapassagem. :stuck_out_tongue: E mandou o táxi para cima de mim, quando viu que ia
colidir de frente. :stuck_out_tongue:

Ora, este acontecimento fez-me lembrar uma imagem que já vi no
Facebook, de futuros motoristas de autocarro, que no Brasil eram
obrigados a levarem uma “razia” como parte da formação. E pus-me a
pensar, “Será que esta gente agiria assim, se passasse pelas
experiências que eu e toda a gente passa, quando anda de bicicleta?”. E
isso levou a outra ideia. :stuck_out_tongue: Como reagiriam os taxistas, se fossem
levados a dar um passeio por Lisboa, onde passassem por Monsanto, pela
24 de Julho, pela Fontes Pereira de Melo… Será que depois dessa
experiência, ainda conduziriam da mesma forma?

Será que a maneira mais eficiente de mudar mentalidades é
simplesmente convidar/forçar as pessoas a passarem pela experiência? :wink:
Será que seria impossível fazer uma parceria MUBI/ANTRAL, um estilo de
passeio por Lisboa de bicicleta, só para taxistas…? Será que em vez de
mandar vir com o taxista, lhe entregasse um cartãozinho, a convida-lo a
dar um passeio por Lisboa por estrada e ele viesse, não ia pensar de
outra maneira para a próxima vez? :stuck_out_tongue:

Enfim, ideias malucas, como aquele taxista! :smiley:

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Luis essa ideia e’ tudo menos maluca, acho muito boa ate’.

Pedagogicamente, para os taxistas (e eventualmente extender o convite a motoristas da vimeca e carris tambem), era perfeito e certamente seria algo que os Media iam pagar, logo ia trazer mais visibilidade 'a MUBI.

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Vídeo da Porta dos Fundos:

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E que tal um crowdfunding para colocar isto na segunda circular?

Nem a propósito hoje no DN

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/18-fev-2020/consumo-carro-e-cartoes-portugueses-pediram-208-milhoes-por-dia-11832112.html

Realço

A este número junta-se ainda o valor pedido em crédito para a compra de automóvel, que foi de 2,99 mil milhões em 2019

Quase 3 mil milhões de euros em crédito para comprar carro. A dívida fica no país e o ativo financeiro vai diretamente para o exterior (fabricante). Que saudades que tenho do governo do Passos @jmpa :wink:

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