Não tenho televisão em casa, mas nesta altura festiva estou por casa dos meus pais e tenho visto alguma televisão. Presumo que não saibais mas a publicidade na TV não custa toda a mesma, tal depende do horário de difusão e em cada intervalo, depende da posição da publicidade. A primeira publicidade num intervalo é sempre a mais cara. Porque a a probabilidade do telespectador mudar de canal aumenta com o tempo. Peço para que façais um exercício: reparai sempre na primeira publicidade em cada intervalo em horário nobre na TV, e reparareis que a primeira publicidade em cada intervalo de horário nobre é sempre a automóveis. Haja dinheiro, que na MUBi nunca sequer teremos. Ficamos com as causas, nobres indubitavelmente, mas as causas nobres não geram receitas.
Um dos ardis dos publicitário neste tipo de publicidade, é exatamente tentar expurgar da imagem ou do vídeo, exatamente os maiores problemas que o carro acarreta na cidade. Alguns denominadores comuns que são típicos na publicidade automóvel:
1. Jamais apresentar trânsito
Apesar de ser uma banalidade nas cidades modernas, é regra de oiro na publicidade automóvel simplesmente não mostrar qualquer tipo de imagem ou cena, onde mais carros possam aparecer. A publicidade vende o “sonho”, a unicidade do produto, e por conseguinte jamais deverão ser apresentados outros carros, muito menos trânsito. Por vezes mostram-se outros carros, mas precisam de ser iguais ao que se apresenta, e num contexto fora da cidade, visto que dois carros numa cidade pode passar a imagem de trânsito, a última coisa que um publicitário quer apresentar.
2. O carro deve ser visto preferencialmente de frente
Mostrar a parte de trás do carro é desinteressante. De acordo com a publicidade e a psicanálise, existe uma ligação entre a aerodinâmica do automóvel e um falo, logo, é o topo do falo que traz a virilidade e é esse que deve ser mostrado. Ademais a parte da frente do carro carrega o logo da marca, é a parte mais aerodinâmica e omite o escape do automóvel, parte pela qual saem os fumos de escape. O pormenor na imagem de cima, de que há vários lugares de estacionamento disponíveis nas zonas urbanas, uma anormalidade.
3. Nunca apresentar fumo nem sequer mostrar o tubo de escape
Os carros poluem, tal é um facto insofismável e os publicitários sabem que os consumidores têm preocupações ambientais. Assim interessa jamais apresentar qualquer tipo de fumo ou gases de escape. Nesse sentido a imagem necessita de ser sempre nítida e cristalina. Mesmo no caso anterior a distorção da imagem é a típica associada ao movimento e jamais pode ser um tipo de imagem desfocada ou “blurry”, pois tal pode implicar implicitamente que o fundo tem qualquer tipo de gases que se assemelham a gases de escape, uma banalidade nas cidades modernas. Assim a publicidade automóvel precisa de fazer um enorme esforço para ludibriar o telespectador de que o automóvel não emite qualquer gás e por conseguinte jamais polui, até porque uma das regras de oiro da publicidade é “o que não se vê, não se sente”
4. Não apresentar semaforização nem sinalética
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O ícone da publicidade automóvel, o sonho que vendem é a liberdade. A liberdade de que com certa máquina podermos viajar livremente por qualquer lugar, sem quaisquer tipo de restrições. E na campo da antropologia social, a liberdade é felicidade, pois a liberdade de movimento permite-nos obter uma série de experiências novas que a rotina do quotidiano não permite. Não deixa de ser estanho portanto que o sonho de vários pessoas quando inquiridas sobre o que fazer a uma certa quantidade de dinheiro num eventual prémio de um determinado concurso, respondem prontamente que viajariam pelo mundo. Logo, a publicidade automóvel para vender esse sonho, precisa de desvincular o automóvel da banalidade do quotidiano. Uma das maiores banalidades do quotidiano, é a sinalética e a semaforização luminosa. Mas a sinalética e a semaforização luminosa, assim como as passadeiras para pedestres, impõem limites à liberdade de movimento, pois fazem lembrar o automobilista que precisa de cumprir as leis da estrada. Uma lei é sempre uma restrição à liberdade. Assim, por conseguinte, a publicidade automóvel jamais pode ter qualquer menção, mesmo que implícita, a uma banalidade das cidades modernas ou das estradas normais, que é a sinalética luminosa ou não.
5. A realidade
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