Ilusionismo à moda do Porto - Como implementar ciclovias urbanas sem interferir com o tráfego automóvel.
Ilusionismo à moda do Porto é tão popular nos nossos dias como as tripas à moda do Porto - “O Infante D. Henrique, precisando de abastecer as naus para a tomada de Ceuta na expedição militar comandada pelo Rei D. João I em 1415, pediu aos habitantes da cidade do Porto todo o género de alimentos. Todas as carnes que a cidade tinha foram limpas, salgadas e acamadas nas embarcações, ficando a população sacrificada unicamente com as miudezas para confeccionar, incluindo as tripas. Foi com elas que os portugueses tiveram de inventar alternativas alimentares,…” Fonte Wikipédia.
O plano de ação de mobilidade urbana sustentável (PAMUS) na amp relativamente a implementação de uma rede clicável na área metropolitana do Porto é um truque de ilusionismo.
A CMP tem vindo gradualmente não só a substituir os corredores de autocarros públicos, vulgarmente chamados de corredores de BUS, mas também à paulatina remoção das centenárias linhas do eléctrico, assim como se prepara para extinguir o troço ferroviário que liga a Alfândega a Campanhã, por pistas destinadas à circulação exclusiva para veículos de duas rodas não motorizados - as ciclovias. Sabemos que um dos princípios de sustentabilidade assenta na eficácia do uso de recursos – pergunto: é eficaz por exemplo, que um autocarro articulado, cuja lotação é de 48 lugares sentados, 96 lugares de pé, 1 lugar para a cadeira de rodas e eventualmente equipado com grelhas de colocação para bicicletas, deixe de usufruir do seu corredor próprio, enviando-o para o meio dos transportes privados onde numa permanente gincana fluirá ao sabor do pára-arranca? Não me parece. Assim como é insustentável a redução do número de carreiras existentes nos STCP.
A arte do entretenimento e da ofuscação da verdade são elementos capitais para que o dominante modelo socioeconómico global, o Capitalismo, possa continuar a existir em face do seu processo autodestrutivo que agora se encontra na sua fase terminal.
Há uma interdependência entre os transportes públicos e a os transportes alternativos não motorizados ou unipessoais – bicicletas e trotinetas com ou sem motor elétrico ou outros veículos que se inventarão e/ou se adaptarão às circunstâncias dos tempos. Pois ambos necessitam de espaço para que nas suas vias consignadas, fluírem e poderem respeitar os horários estabelecidos - no caso dos transportes públicos. E espaço de qualidade – a ciclovia e respectiva rede viária - onde o factor segurança é fundamental para atrair um maior número de cidadãos - potenciais utilizadores dos transportes de duas rodas não poluentes. Se se eliminar e/ou empobrecer a rede de transportes públicos - haverá um universo maior de cidadãos que optará e/ou se virá obrigado a usar o veículo motorizado privado para as suas deslocações diárias tornando a rede das vias de circulação urbanas num exigente e constante desafio para os cidadãos que já optaram pela utilização de transportes alternativos – maioritariamente velocípedes - e afugentando toda uma nova adesão de pessoas a esse meio de transporte urbano sustentável que é sinónimo de progresso positivo. Nesta equação entra também os peões pois estes perdem substancial qualidade de vida com a circundante algazarra do tóxico trânsito automóvel e são as vitimas mais numerosas dos acidentes de viação na rede vial urbana.
Não se iludam, pois o modelo vigente perdeu o juízo face à sua insustentabilidade. Qualquer diálogo com os nossos governantes que não tenha em consideração a doença que aflige os órgãos de poder onde daí operam, inadvertidamente se contaminará.
Concluindo, a cidade do Porto só poderá sobreviver à era do pós-carbono, que ao virar da esquina já se encontra, se tiver a humildade de aceitar que o modelo civilizacional que defende com unhas e dentes se encontra ferido de morte. A nós, cabe-nos prestar atenção ao movimento que o relevo da paisagem imprime na nossa bicicleta e à sua consequente trajetória, que delineia uma invisível linha com origem no passado e que no presente nos permite projectar o futuro. Pedalemos então irmãos e irmãs!