Não acredito que a esmagadora maioria de condutores (também sou um…) façam estas coisas de propósito para atrapalhar ciclistas, é mesmo aquela coisa de não ter sítio para parar e achar que ali não vai atrapalhar ninguém porque poucos - ou ninguém - passam.
A pedagogia é importante, mas mais importante ainda é criarem vias para modos suaves de mobilidade verdadeiramente segregadas das outras (portanto, que não permitam a entrada de carros) e, sobretudo, incentivar amigos, colegas e conhecidos a usar bicicletas (ou outros meios suaves) porque quantas mais houver, mais difícil será para um condutor se “atrever” a estacionar nessas vias porque a infração ficará demasiado visível por atrapalhar tanta gente.
Ontem passei por lá às 19:15 e estava um carro parado, todo atravessado e a ocupar as duas faixas da ciclovia, “à patrão”
Quatro piscas ligados, sem condutor ou qualquer outra pessoa lá dentro para falar. Tirei foto e experimentei a app “Aqui Não”. Vou dando novidades quanto ao assunto.
Esta nova ciclovia é toda um tratado sobre como não fazer ciclovias. A saber:
Rua Gonçalo Sampaio:
Faixa de entrada na ciclovia bidireccional extremamente perigosa
Ciclovia bidireccional que impossibilita a entrada em ruas à direita
Zona de conflito com praça de táxis
Zona de conflito com lugares de cargas e descargas, sem pilaretes, convidando ao estacionamento ilegal em cima da ciclovia
Avenida de França:
Faixa no centro da via a tornar a entrada perigosa para quem vem da Rotunda
Semáforo vermelho junto à estação de metro que obriga a esperar (já vi ciclistas a preferir a faixa “normal” para não ficarem parados neste semáforo)
Faixa no centro da via que obriga a cruzar duas faixas para continuar em frente pela Av. França
Rua Vieira Portuense:
Piso em pavé, desconfortável e perigoso
Eliminação desnecessária de estacionamento para moradores (bastava uma faixa de contrafluxo e meter a rua como Zona 30), criando antagonismo para com ciclistas
Rua Domingos Sequeira:
Cruzamento perigosíssimo, sem lombas nem semáforo
Rua Francisco Sanches:
Mais uma eliminação desnecessária de estacionamento para moradores (bastava uma faixa de contrafluxo e meter a rua como Zona 30)
A MUBI está a pensar comunicar estes problemas à CMP? Provavelmente será demasiado tarde para corrigir esta ciclovia, mas talvez vá a tempo de impedir que cometam os mesmos erros nas próximas.
Não vejo como é que criando apenas uma faixa contrafluxo nas Ruas Francisco Sanches e na Vieira Portuense se conseguiria simultaneamente preservar todos os lugares de estacionamento que existiam, mas concordo que neste tipo de ruas se poderia dispensar ciclovias bidirecionais.
Tem de se ver isto pelo lado positivo: para uma cidade que não tem praticamente nada para apresentar em infraestruturas para modos suaves de mobilidade, tem de se valorizar este início de criação por muitos defeitos que possa ter. Sendo que é natural que muita coisa seja reavaliada ao longo do processo.
Julgo que teria espaço suficiente para uma faixa de contrafluxo. Mas concordo que poderia criar conflitos com automobilistas que viessem no sentido oposto, uma vez que vivemos numa cidade que não está habituada a essas soluções.
Já sobre as soluções poderem ser temporárias, discordo. O novo semáforo para bicicletas na Av. França e o piso antiderrapante amarelo nos cruzamentos dão a entender que são soluções para ficar.
Se criasses apenas uma faixa contrafluxo numa das laterais da rua e mantivesses duas “filas” de estacionamento, aconteceria uma de duas coisas: na fila que ficasse junto à ciclovia não se podia abrir as portas do carro no lado contrário do condutor, sem causar perigo a quem circulasse na ciclovia; ou, então, teria de se afastar um pouco essa fila de estacionamento da ciclovia para eliminar esse perigo e, nesse caso, apertaria demasiado a faixa de circulação automóvel.
Portanto, continuo a não ver possível essa ciclovia unidirecional nessas condições e já andei nessas ruas de bicicleta.
Na rua Visonde de Valmor em Lisboa fizeram uma via unidirecional em contrafluxo e os carros se tiverem que abrir a porta abrem para cima da ciclovia, mas estão de frente para os ciclistas, é muito timing e mau feitio abrir e acertar numa bicicleta em movimento contrário.
Bem visto. Inconscientemente, imaginei de facto uma ciclovia unidirecional, mas no mesmo sentido do trânsito automóvel, o que aumentaria mais o perigo do que se fosse em contrafluxo.
Contudo, ser em contrafluxo não elimina completamente esse perigo, ainda que seja bastante menor, à partida. Não é preciso apenas mau timing.
Mais importante, essa rua de Lx tem bastante mais largura - pelo que vejo das fotos - que as ruas do Porto que falámos atrás que, insisto, conheço pessoalmente, não apenas de fotos.
Para caber tudo, teríamos uma ciclovia em contrafluxo estreita (bastante mais do que essa de Lx) com carros parados mesmo ao lado dela e do outro lado da rua, obrigando a uma faixa de circulação automóvel ao meio estreitíssima, para não dizer de impossível circulação.
Não só não haveria uma ciclovia perfeitamente segura, como a própria circulação automóvel passaria a ser também ela insegura, isto se ainda existisse.
Acho que, neste caso, foi melhor eliminar uma faixa de estacionamento, sinceramente. Até porque duvido que a maioria dos carros que paravam lá fossem de moradores dessas ruas - ambas as ruas têm todas as residências com garagens, avaliando pelas imagens do google.
Depois daquele avanço que se falou, nada. Os semáforos da Avenida de França continuam com a película. Quando passo lá não sei se me devo orientar por eles, mas o que é certo é que eles estão a funcionar.
Espero que a Câmara não esteja a analisar a adesão antes de continuar. É preciso uma rede de ciclovias, não apenas uns troços dispersos pela cidade.
Entretanto já soube que o dono do veículo (talvez o condutor) recebeu uma carta com 30€ de coima. Espero que seja o suficiente para pensar duas vezes antes de desrespeitar a via pública e as pessoas que nela circulam.
Tens que explicar direitinho como fizeste isso . E-mail que usaste, como foi a ida à Câmara…
Apetece me muito começar a usar isso. Mas a parte do ir presencialmente , especialmente se exigir diligências e tempo, já começa a ser um turn down.
Porque para uma vez pode funcionar, mas claramente perde o efeito de escala.
Usei a aplicação Aqui Não para compor uma mensagem formal, tendo mais tarde adicionado contexto e imagens, e enviei para a Polícia Municipal do Porto.
Depois é (normalmente) aberto um processo e atribuído um número para o caso e respondido por e-mail. Pediram-me para passar na Câmara Municipal para formalizar o acontecimento.
Lá tive que assinar uns documentos e escrever um pequeno texto (1-2 frases) do acontecimento. É neste processo que acho que poderia melhorar. Por azar o sistema estava em baixo e não conseguiram finalizar o processo. Uma semana depois voltei lá para finalizar e soube dos detalhes.
A app não tem qualquer ligação às entidades competentes, apenas faz algumas perguntas e compõe um texto para ser enviado por e-mail. Depois acrescentei algum contexto e as imagens